UM POEMA DE DANIELA PACE DEVISATE

 


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Mãos azuis folheavam o livro de lírio

que continha mensagens do futuro

mas no centro, onde estava a costura,

desenrolou-se uma noite estrelada

e boiou uma lua que ficou à sua frente,

a poucos centímetros de seus olhos,

girando devagar sobre seu próprio eixo.

Dentro do livro-flor, enquanto

virava suas páginas tingidas

de perfume ultrasutil,

novíssimos horizontes esboçavam

seus ramos ainda débeis,

acenando luminosamente.

Ia sentindo uma crescente alegria,

um clarão se abria na floresta do peito.

Em duas páginas de pétalas,

escaparam nuvens que cambiavam de cor,

parecendo suplicar nossa decifração.

Em outras, letras de ouro pressentidas

e profecias bordadas com os cabelos

de mártires e de prostitutas célebres

vinham como que impressas,

grafadas na carne da alma.

Era a pena de um anjo

que fazia todo esse trabalho?

Ou apenas de um pássaro há muito extinto.

Uma rosa perene e tatuada

por dentro, na página *,

invisível,indelével,indecifrável,

com seu riso de esfinge a ironizar

o mundo de prazer e dor.

Nas últimas páginas enxergou

a ilustração de um par de asas

a depor um límpido cristal

em seu ventre,

um ventre tão virgem 

quanto a manhã que nascia.


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