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Mostrando postagens de setembro, 2021

UM POEMA DE MARLI FRÓES

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  NINGUÉM FEZ ISSO   a mão obscena risca o fósforo não acende o cigarro   pássaro ao chão roedores,   cobras - em disparada - esquecem a cadeia alimentar   a mulher cora as faces outra, colhe alfaces e hibiscos   a fuligem fecha o tempo e não comove os templos.

UM POEMA DE JORGE AMÂNCIO

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  APAGA A LÂMPADA E DEIXA SEUS OLHOS RELUZIREM COMO    O FOGO   elefante que abre a cabeça talismã pesado, se agacha para comer erva luta com uma árvore, com alguém vem ao mundo com duas presas   chato, muito chato, respira com força de costas se assemelha ao nevoeiro com imaginação movimenta os braços com única mão abate duas palmeiras   fina agulha na alvorada brilhante como uma conta talismã cabeça de pássaro   árvore alta da riqueza, sombra grande na água erva boa no lugar alto

UM POEMA DE SIDNEI OLÍVIO

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  À   SOMBRA DOS CICLOS     vultos à volta movem-se lentamente feito lembranças de um tempo ardiloso   o espelho prende à parede translúcida realidade - anverso das manchas de aço no impressionismo da face   em vestes esvoaçantes (à moda dinâmica dos fantasmas) cortinas balançam o vento   revolvem poeira sobre o soalho de pedra que atravessa corredores da casa ancestral   estiagem que anuncia finitude de estações nesse acúmulo de setembros

DOIS POEMAS DE NILTON CERQUEIRA

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  PRECE A SÃO SALVADOR                                                                                                         necropolitana noite de fel escuro cadáver caído dado a ver a quem viesse… largado no largo do tamarineiro azedando a vizinha madrugada   desperta bruto o sono periférico de São Caetano entretanto canto algum da cidade imensa seria santo pleno diante de tal horror nenhum santo o seria bastante! São Salvador, inerte de morte nesta hora profanada soçobra inteiro! sombra veloz sanha insana esgarça, assassina a multissecular obra sincrética, sincrônica híbrida de crenças entre trançadas de tradições transmutadas em ritos tantos... tudo rompido de súbito! * silêncio recluso nas casas violado a tiros secos tímpanos também feridos no largo, estampidos descampando terá sido tresloucado, o ato que engatou a arma? Terá origem no instinto, O disparo do gatilho? nenhuma ideia do que seja bestial, ou i

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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  FLORIANÓPOLIS   penduro-me na janela como carolina de chico. o bando de maritacas insulta a mudez de meus olhos. perfume italiano me lembra do tempo em que sombras eram sonhos. tempo em que me olhava em espelhos de jezabel. já fui muito apaixonada por mim.   volto ao computador com a inutilidade da caneta entre dedos. olho minhas pernas. não há poesia em meus joelhos. o poeta insiste em meus poemas de corpo. o noticiário revida: a morte ronda com sua boca de dentes incertos: de um lado mil cairão, de outro morrerão dez mil. sem arca de noé, sobreviveremos: toda peste passará, o país mudará de mãos.   preparo a máscara, várias gargalhadas e um pé de poesia. não vou me render à morte da vez, ainda que ela coloque cadeiras à minha disposição. vou ao encontro do sol de florianópolis. lá onde os medos se desconstroem e recria-se o inusitado do salto.

QUATRO POEMAS DE CELSO VEGRO

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  ANDARILHO   Um silêncio devorado sentenciou: não há serpentes.   Foi só um jogo que governava as astúcias da vida e tremores do corpo.   Imperdoáveis cactos vermelhos, de alma arejada, fruem décadas sem alarde.   Ainda que o declínio seja perene, a terra permanece incógnita.   Cada novo dia, entrecortado, traz seu entusiasmo em contramão ao começo do fim.     IRIDESCÊNCIA   Sujeitos petrificados por palavras inesperadas aturdem paredes.   Línguas estranhas largas e estiradas produzem vertigem.   Estátuas de cera da habitação vacilante vestem escamas.   Cabeças de víbora na palma da mão abatem sílabas.     MILAGRE ALGUM   Flores mastigam asfalto cospem pegadas sujas entrecortadas pela borda do lago estagnado morada do buraco polvo.   Poeira sepulta bananeira estéril encetada em leito seco aplanado próximo ao vale originário de outro ser.     LATIDOS   O

UM POEMA DE JOSÉ RICARDO

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  ENTRE OS CAMPOS   Em cerco marchavam nulíparas éguas.   Crinas invocavam dos cavalos em raio, almíscar de jaspes.   Entre os campos surgiu escura erva.

UM POEMA DE EWALDO SCHLEDER

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  SAGA   O vulcão lavra pedras e brasas. A boca discursos e frases. Que incendeiam os ouvidos. De quem ouve somente palavras. E não sente o fogo das lavas. O vulcão consagra. Queima e brada. A palavra que afaga. A palavra é sagrada. É destino. É sina. É saga Jamais se apaga.  

UM POEMA DE EVILÁSIO JÚNIOR

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  ANDANÇAS   caminho por Teresina   misturado aos outros homens, coisas, cidade derretido pelo verão   meus trintas e poucos anos de espanto evaporam com a lambida do tempo   uma mulher dança no asfalto é serpente encantada pelo torpor vira fumaça no meio dos carros   olho para a vidraça embaçada pessoas invisíveis caminham ao meu lado.  

UM POEMA DE DIRCE CARNEIRO

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  PLANTÓN Entro como óvulo fecundado sêmen, espírito fecundo penetro no útero- abrigo terra árida, que o amor ara   Gesto, tempo de espera. Sugo da Mãe-Terra seu leite vital atávicos elementos de outras eras -- talvez vulcões terremotos fósseis de antepassados memórias celulares onde enterrei a semente   Chuva e sol lua e dias séculos regam o plantio   E broto, emerjo do solo saúdo o Universo.   Tenho sede e fome de recém-nascido. Choro e grito   Estou nua. Um corpo me abriga. Lavam-me da terra, limpam o pó de onde vim e voltarei.   Cobrem-me de corpo, um corpo de outra mãe humana  

UM POEMA DE ANDREA DE MORAES

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  No escuro eva-me da sombra sufocada na parede leva-me da luz apagada sob meu colo atrás do espelho o breu da janela e nele se revela a tristeza das horas e assim a noite fica muito mais presente

TRÊS POEMAS DE SANDRO SILVA

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  NAUFRÁGIO   Sua fúria tragou-me pelos dedos irresolutos força inapelável do acaso.   Bandeira rara hasteada anunciando a chegada de uma nau sem rumo.   Acusei logo o golpe onda densa que se quebra em costas desatentas.   Sacudiu o desassossego para imergir-me de volta por súbitas surpresas.   Magnetismo em movimento água indócil e indivisível sem vertigem a se apegar.   TENDÊNCIA   Agulhas na pele corpos costurados ponto por ponto.   Traços sem molde cores desbotadas arremate preciso.   Novelos de carícias retalhos de suor soluços embrulhados.   Sorriso promocional transe alinhavado tendência da estação.   MOVIMENTO   O tempo flui. Retilíneo, como lesma deslizante. Constante. como orvalho gotejante Vibrante, como sangue pulsante.   Imprescindível Inabalável Irreprimível   O tempo flui. Como se disso dependesse sua própria razão de ser composição de tudo.   Destemido