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Mostrando postagens de julho, 2020

COMO ORGANIZAR, PUBLICAR E DIVULGAR UM LIVRO DE POEMAS

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COMO ORGANIZAR, PUBLICAR E DIVULGAR UM LIVRO DE POEMAS é o tema da palestra que Claudio Daniel, poeta, professor e crítico literário, realizará no dia 10 de agosto, segunda-feira, das 18h30 às 20h. via internet. Serão oferecidas 25 vagas para quem tiver interesse em participar da conversa e o investimento será de R$ 30,00. Alunos regulares do Laboratório de Criação Poética estão isentos do pagamento. Informações e inscrições pelo e-mail claudio.dan@gmail.com

TRILHA

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O amor é um lagarto em fuga: desponta da testa a crina, as patas se vestem de fogo. Em nuvens , novelos devoram avelãs, nossos pés encontram-se no espaço, raptam luar  olhares indiscretos Ele me diz que a morte é uma delícia (naufrágio ébrio de palavras flutuantes). O tempo repartido se retorce em contramão. Flores brancas em águas profundas, reflexo de hubris submersos De súbito, vejo uma pinta em sua pele. A noite dorme sobre rasgos e dores. Clima de lua e medo carbonizou nossa memória, dramas sem começo, meio, fim. Sofrimento escravizado,estado de cansaço: Dilaceramento. Cadáveres enfileirados em correntes, pixels gotejando de um dispositivo cerebral. O cadáver delicado beberá o vinho novo: Se non há senso il sentiero alla fine del viaggio dov'è lo splendore? Criação coletiva  ("Cadáver delicado") de alunos do Laboratório de Criação poética do professor Claudio Daniel) Poetas: Dirce Carneiro, Ewaldo Schleder,  Marcia Tigani, Bi

UM POEMA DE JADE LUÍSA

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MATIZ Ossos cerrados. Dentes de javali perfuram o tronco do jatobá Cochilam na terra breve, caliandras. Ciano hesitante de junho, janelas aflitas Brasa e frio dos trópicos. Como se lábios nos calcanhares já não lambessem a terra. Gavinhas de areia, sentinelas do sol Ipês renascem, oclusos como cartas de amor que o tempo corou Flui indomável luz.

UM POEMA DE FLAVIANO M. VIEIRA

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IMPELE eu vejo cura na clausura que a segue amarga flor quando a culpa a persegue em desamor solitária toda entregue eu vejo luta quando a cura não consegue amarga flor sem um fim que a sossegue fugaz torpor que de tudo a acomete eu vejo fuga de tortura que se inscreve amarga flor que se instaura e subverte rodar do ardor que o espinho traz na pele eu vejo tumba na fissura triste e leve amarga flor que a vida nos impele amarga flor que o verso entristece

DOIS POEMAS DE CARVALHO JUNIOR

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TRINADOS Nada me quebra o torno do assovio. Nada no mundo me descriançaliza. Vivo, o tempo todo, com meus pássaros. REGORJEIO Quando eu era a metade de um verdinho-da-várzea, corria pelo chão de toás, nos ombros de meu pai, com curicas de papel. Sou, ainda, aquele mesmo menino-andorinha-do-rio? Ou um graúdo, espantadiço, rabo-branco-do-maranhão? Há dias em que acordo pardal caído do telhado, há outros em que acendo um curió nas entrepernas da rosa-do-deserto da manhã. Há sempre um sibilo de mistério, no silêncio que palpita na faixa dos olhos da lavadeira-mascarada no rude arame, súbito, desaparecido. A névoa do soluço do urutau, no galho da lua, “ai, ai, mamã!”, assusta o cabo, partido, da noite e desarma a atiradeira do ontem.  Toda vez que tomo assento, sozinho, à calcada de casa, as mãos de Quirola e Elias soltam um canário torneado do lábio da antigaiola do sonho e, entre cipós indomesticáveis, estiro as asas da

UM POEMA DE DIRCE CARNEIRO

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PREITO PREITO Sussurram copas no ocaso de outono. Cantam aves No hiato do juízo. As horas cravam sentires de dor. Badala o bronze, acelera instantes. Belo é o cenário alheio a circunstâncias. Cores da estação dominam a vista. Girassóis circundam seu corpo inerte. Último mimo a seu gosto na terra. Tinge-se de ocre o campo do adeus. Olhos parados, tomados de espanto. Imaginário perdido um futuro sem ti. Deitam-se no preito os tons da saudade.

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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FELINA fôlego ressurjo-me vida a escalar primícias da manhã centelha ardo-me raciocínio a espreitar os sons do futuro vigília faço-me garras a guardar solos e selvas lâmina esfaço mármores e os deixo a seus mortos não à toa aprendi a incitar sóis e tempestades.

UM POEMA DE ANDREA MORAES

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CINCO MINUTOS Prazeres, pesares. Derramam-se as sensações para dentro do eu. Navegam da cabeça ao coração para explodirem, inesperadas, em gritos loucos, em lágrimas pedradas.

UM POEMA DE MÁRCIA TIGANI

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CALUNDU Mãe do dia, Iami acorda do teu sono profundo No alto já brilha Guaraci Inunda-se a floresta de raios dourados Acorda do teu sono secular, Iami Da copa do Pau-rosa mais alto avista-se alguma esperança? Por verdes cipós trançados esgueiram-se curumins assustados . Espia, mãe, para além da outra margem do rio: Não ecoa estranho ronco? Não é  murmurio doce. Não é a voz do Iguassu. É  estrondo invasor, mãe Ziguezagueando  a mata É som dolorido De madeira  ao chão Do cafundó da selva Ecoa o estrondo de Tupã A despertar de seu repouso de rei Debulha, pai, tuas lágrimas Em forma de tempestade Pela terra  devastada Faz  dia virar noite Faz  o aguaceiro da ira Envolto em  calundu Expulsa a motosserra  Da aldeia perdida do pau-brasil

UM POEMA DE MAURÍCIO SIMIONATO

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A PRAIA Engulo um punhado de terra arrasada enquanto roço o dorso na fumaça amareada de desencantos. Os rochedos desconfiam dos jogos de amar e desamar. Aprazíveis praias vazias enlaçam-me nas névoas do destino ocaso. Derivo nos espaços que me sobram ressurjo em busca de ar, à beira de um oceano qualquer. De rosto afundado na areia, estanco o fluxo que me trouxe à vida. Respiro o dia para deixar de ser fim. Embaraçam-me sonhos a perder de vista. Trago olhos exilados, lábios arroxeados cílios marejados. Também sou criança. restou em meus pulmões o sal da saudade perdida. Não sinto mais o gosto de conchas em minha língua, sílabas indizíveis me trouxeram até aqui. Invado a praia sem fazer castelos, Sem pipa, bola ou boia. Sou mais um Imperador de Sorvetes das brincadeiras que perderam a esperança, o quase amor na brisa de outrora e quem você não deseja ver caída em uma manhã ensolarada de marés baixas Não avisto as nuvens de hoje, mas sempre me

DOIS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

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MARCHETARIA Os cubos da rua encerram a raiz da pedra fundamental. Sulcos do tempo  incrustam as pedras com dna escravo. De fios retilíneos a cidade é a rua esquinas retângulos rios desafinados. Antes era a província  branca e reta  depois torta e cor de fumaça. Pura marchetaria obra de séculos e além o homem às tantas faz de conta que é deus. GARGALO A lida leva o solo leve do povo e lava solta a cisma da crista do gargalo parco. Pouco prado para o gado solto bravio e desvairado. A peste avisa breve busca sina fatal derradeiro abuso. Na quadra exaltada os fieis cantam hinos finos prestados à heroica mocidade. Sobressaltada a mulher corre surpreendida por breve assalto de soslaio um susto sem fim.  

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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ÍMPETOS corpo sobre a cama lasso insano baço carência caudalosa de abraços angulados desejos dissimulados em ímpetos assíndetos saudade sacramentada no ruminar das rupturas onde germinam gestos farsa de uma festa do sexo solitário.

UM POEMA DE EWALDO SCHLEDER

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MESA VAZIA Peçonhenta persevera persiste no próspero prostíbulo onde Maria não se fia nos fios da trama mas fia a paga na cama no cofre um quadro na parede da santa ceia que cedo se abre na fresta da festa e todos saem. À mesa vazia laico profeta prova o provérbio encantado que provém também do além. Como as fadas de Marrakesh e Belém. Amanhece deserto decerto aquele é o sol estrelado estalado estatelado no fim do silêncio na escuridão do horizonte.

UM POEMA DE REGIVAN SANTOS

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há um corpo estranho as veias da casa ainda gritam mas há um corpo estranho vagueando entre os homens as vozes dos homens entre o nada e o sopro de tudo o que cabe no recinto humano um estranho corpo estranho ao acaso rusga engarrafada da noite há um corpo estranho e o ar arde outra vez no silêncio o corpo existe ainda que inerme resiste

UM POEMA DE MAURÍCIO SIMIONATO

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NOS DENTES DA NOITE A primeira estrela da noite chega entre nuvens que já se foram. O primeiro pássaro da noite revoa do Leste imaginário rumo ao Oeste solitário. O primeiro cavalo selvagem da noite sequer existiu. Mesmo assim partiu agalopado. As primeiras pedras da noite daqui a pouco se tornam frias. E tornam-se uma ameaça aos primeiros passos da noite, com seus subângulos salientes Feito os primeiros dentes da noite, que remoem a lâmina cega da imensidão. A noite, em seu desjejum, nos engole. E o faz apenas para poder raiar no primeiro amor do dia.

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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DESAGUES não se desbrava esta mulher com adornos e vigílias não se descobre esta mulher pela atração de seus pecados não se desveste esta mulher por seus desagues e fertilidades precisa-se madurar de vermelho suas anêmonas e águas vivas espalhar orgias e espantos e enchentes nas palpitações de seus lábios todos amar esta mulher na pungência e na mística do alimentar de seus seios.

TRÊS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

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AMPULHETA Sou mais novo do que Chico, Caetano e Rita Lee, ídolos da minha geração. Contudo mais velho do que Otelo de Shakespeare. Tenho a idade do rock ’n’ roll. Sou mesmo da época dos moinhos de vento. Aqueles que Dom Quixote herdou, no reino da Espanha: tempo de Sancho Pança. À EXAUSTÃO O maior fracasso que sei é o amor fracassado. Fica-se ausente da real. Sonha-se com o ontem. Saímos de nós mesmos e não voltamos mais. Cultivamos nosso solipsismo à exaustão. Nos perdemos no tempo e só vemos nossas costas descobertas. Horizontes sem fim, céu sem estrelas. A derrota no amor traz a experiência da morte. Nada mais existe, nada mais interessa. Respiramos apenas porque o ar é inevitável. A derrota no amor se avizinha da destruição completa do ser. Será bem vindo um novo amor e só este poderá salvá-lo. POEMA SÃO PALAVRAS QUE FALAM Se sou poeta é porque sou intermitente. Não mantenho estável nenhuma vibração de nervos. Viv

DOIS POEMAS DE MÁRCIA TIGANI

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LABIRINTO Tenho asperezas que me acompanham desde antes de nascer Tempos de ausências em solo arenoso de desertos despojados Meus pés tateiam o calcário de memórias de um mundo paralelo Torno à geometria de coisas esquecidas e de ossos guardados Em sua porosidade levam- me a minerais e líquens de outras eras À um canto de sombras ergo minhas lâminas que cortam os nós Como um punhal atravessando a passos lentos a mansão calada Da janela ouço a procissão de mulheres moldadas a ferro e pedra Seus cânticos falam de lutas e misérias mas possuem ternura Na parede ocres retratos guardam sorrisos em tinta quase incolor Um terreno movediço em trilha escondida sob densa vegetação Convida- me a ir além sob noite sem estrelas a terras nunca pertencidas Águas abissais Trazem- me à superfície Já quase sem ar E de novo fecho- me em concha. ELEGIA II Os mortos esvaem-se e partem em naves que chegam sem aviso. Abrem-se c

UM POEMA DE DIRCE CARNEIRO

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UBUNTU Um céu desenha-se nas infinitas linhas, grande lua disforme bicolor deita-se no platô de águas mansas. Uma linha invisível sustenta o sonho do menino no espaço abissal. ...Voar é lançar arraias no Universo. Há cores escondidas em tons de azul e olhos notívagos fazem sentinela. O grande mar mescla-se de alvoanil, nuances pictóricas, senhas de pareidolias. Sugestões oníricas do perfeito multiplicam-se, somos deuses - trindades no panteão sagrado: Vidas... No centro, a boca cerrada em vértices bases sustentam a pirâmide hexagonal já não há separação o Uno se fez Imagem : Jeannette Priolli

UM POEMA DE JOSÉ COUTO

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QUINTESSÊNCIA todas as coisas da terra água, mata, bicho, céu são também uma parte do eu e você nada mais que tons, nos tatuando onde há cores e formas, existimos mesmo na transparência, ali estamos a alma, o frenesi, a alucinação o que silencia, o atroz ou a doçura não se desfazem, permanecem em você, em mim, nós orixás são o que são e somos o que somamos e se isso lhe consola depois de tudo ainda estaremos nas auroras iluminando astros consumindo o tempo e sendo devorados por ele a arte nos ajudando a lapidar as inexoráveis fontes que jorram perguntas ah, se não fosse a vida! Imagem de Jeannette Priolli

UM POEMA DE MAURÍCIO SIMIONATO

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ALMA ATOL Oh atol de minha´alma que me faz liberto novamente E me aprisiona como sempre em teus sertões, outrora secos. O prisma da bruma eleva-se ao tempo-distante. Um horizonte ainda pode estar lá adiante, desidratado de marés. E encoberto por miragens esvoaçadas pelo silêncio que só as ondas têm. Para lembrar-nos de abrir a vela Tal qual latido de cão, que jamais volta para dentro do mesmo pulmão. Os últimos laivos ruivos nos céus são os primeiros a sumirem na noite sovina de sóis. Cego pelo farol abandonado em ruína. Neste atol de gaivotas libertariamente territorialistas pousam saudades perdidas em pontiagudas pedras-pomes. A filha da lava emerge dos mares com seus olhos cor de cobre, cortantes. Repouso em rochas ígneas que me ferem as costas, os dentes e as tripas. Arrefece o magma da ausência em minhas chagas. Soerguido, estanco o assoalho oceânico em meu peito salino. Oh atol da minha´alma. Salve-me, mas não por muito tempo, neste fim de m

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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LABIRINTO ele chegou indiferente na mão uma taça de metáforas noutra a constelação de andrômeda e dedos ágeis para bordar minha saia azul anil do alto dos meus pés de barro sorri divertida : sempre me achei domadora de todas as feras antes de despertar novo dia descobri ele tinha mil labaredas no abraço e um olhar que me prendia com fios de encanto a um labirinto de onde eu nunca sairia.

UM POEMA DE EWALDO SCHLEDER

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HÁ UMA GOTA DE SANGUE  NESTE POEMA É o medo  que dilacera. Como uma pedra de gelo na manhã de inverno. O pavor penetra e corta pontiagudo e afiado. Conheço essas dores das leituras da minha infância, das noites da minha indigesta adolescência. O ser se dilui com a inexperiência e a ignorância. É quando só a loucura salva. A ausência de medo é loucura velada. Dor é desacato. É o pior lado da vida. Mas faz parte dela. A realidade impinge o medo.  O medo do claro como outrora era o medo do escuro. Falo dessa dor da solidão e do isolamento. Dor que o outro não vê.

DOIS POEMAS DE JADE LUÍSA

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ECO DE LUSCO-FUSCO Escuto a água arranhando o vidro Suas unhas rascunham calmaria e flores Esqueço como a água sente a pele Esqueço como a água rasga a pele Os dias arranham o vidro Esfolam as flores que a água rascunhou Dissipam a face que a noite tingiu O fogo a guerra os mortos, já não os sinto Eles ainda vivem sob os sulcos do asfalto Mas eu, tingida de noite, esqueço. REVERBO Nos teus dedos minúsculos não cabem os gerúndios infindos. Toco tuas pálpebras trêmulas cadência particular. Escrevo o amor dedilhado Enrolo teu lá em minha garganta – ela se abre e afina  da ponta do delírio à extremidade do seu último dedo e caçoa do sinlêncio. Teu riso é palavra, assonância Sentir o amor e sentir o vento e sentir o silêncio E cantar tuas palavras em tons e hálitos É o que me faz verberar tua voz.

DOIS POEMAS DE CARVALHO JÚNIOR

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RISCO cuidado com as unhas dos meus monstros! mato-te, ainda, com uma pétala de afeto. PROTEÇÃO Proibida a entrada em meu lar-poema : sem um lápis de, pelo menos, três fundas camadas.

UM POEMA DE ROSANE RADUAN

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NOITE ET NOI(R) Bioluminescência ilumina a trilha leva ao crepúsculo portal da noite habitat de estrelas o olhar capta pela claraboia um céu de espirais colorido de nuvens brancas faz-me lembrar o buraco negro ceifador de galáxias não se vê o beija-flor fugiu da lua escondeu suas cores sobrou solitária a luz presa na retina cega.