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Mostrando postagens de dezembro, 2021

UM TANKA DE MARIA MARTA NARDI

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  TANKA TALVEZ   chuva de outono balança o trem atrás, a cidade natal   um crisântemo de sangue desmaia o céu

UM POEMA DE JORGE AMÂNCIO

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  COMPLEXO ALEMÃO   manhã pelas janelas cafofos amontoados escalam o morro   tarde pelas frestas teleféricos mutilados escondem o choro   noite pelas vidraças mal iluminadas rajadas em coro   *   da janela ao lado menina morta bala perdida   o comércio jurado abre as portas comida fiada   do outro brado anúncios de rotas milícia fardada   *   menina mil anos deixa 2 filhos pai ignoto   órfãos sem planos futuridade sem trilhos quietude esgoto   vigia dos danos brevidade sem brilho 11 e 12 anos mortos

DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

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  AUSÊNCIA   a cadência sombria do relógio marca horas hesitantes   da fechada janela apenas o silêncio rasgado pela hélice do ventilador   ínfimo é o olhar de quem habita o escuro     ÍNDIGO     azul era a cor preferida na vida de Raul   a roupa que vestia a casa que pintava   a tinta que escrevia o mundo que sonhava   azul, tudo era azul na vida de Raul   admirava o céu admirava o mar   ficava imaginando a lua azular   do nome tinha orgulho repetia com ardor   Raul sempre rimava com azul, a própria cor   e quando o colocava como lua a espelhar   Raul então brilhava seu nome era luar  

UM POEMA DE CELSO VEGRO

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  AQUILO   Hálito erótico mesclado de morte, brilhou frio na escama do réptil.

DOIS POEMAS DE CLAUDIA SLAVIERO

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  festa de São Pedro - casal parece ensaiar   dança da chuva   * * *   primeiro bonenkai - para comer churrasco recebo hashi dia à beira-mar - unguento para torcicolo na lista de compras    

DOIS POEMAS DE DIRCE CARNEIRO

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  NOITE VERMELHA   Raios, trovões, ventania luz que risca o céu energia de oyá     MISSA DO GALO   Que peru que nada mais caro que vacina será que vai dar ovo?

UM POEMA DE FABÍOLA LACERDA

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  'lah'abim e sua órbita de fogo 'lah'abim num voo à madrugada seus lábios aduncos ferem o corpo seus olhos camitas perfuram a alma   'lah'abim comerciante em granada 'lah'abim fiduciário em castela reis lhe devem, perseguem-no os papas quase sem bens, lah'abim na diáspora   em naxos 'lah'abim projeta naves seguras antes adultera as coordenadas dos mapas assina contratos com o sangue do pulso recolhe seus préstimos num cemitério em praga   deuses criam homens e monstros do barro 'lah'abim é o fogo da fornalha sagrada para demônios 'lah'abim corrompe o corpo para os deuses 'lah'abim endurece a alma   a chama dos olhos do satã é azul clara o mar é pesado, azul é a dúvida o mar é pesado, seu manto vulcões apaga azul escuro é o núcleo da vida   'lah'abim vende sedas em alcacería 'lah'abim produz de tecidos no novo mundo 'lah'abim exilado sob um p

UM HAIKU DE GUSTAVO RODRIGUES

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  voo de bem-te-vi em busca de pouso na cidade, só concreto

TRÊS POEMAS DE SANDRO SILVA

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  BLASFÊMIA   No apuro repentino da penumbra os corpos convergem ao relento sensações descortinadas no pulsar passos convictos sem retorno.   Qualquer foco de luz é um sinal qualquer abertura, uma passagem sem barreiras expostas a olho nu dúvidas bloqueadas pelo desejo.   O atrito da pele desprovido da culpa roupas suplicantes lançadas ao altar feitiço acobertado em blasfêmia profana celebração de um instante.   Mas o silêncio ainda soa redentor na dispersão de ocultas florações sacros mistérios suspensos no ar como ecos de uma benção final.   O assopro livre do vento Traços no olhar do arquiteto Estética da existência.   *   Céu dos olhos em desalinho Estrela cadente sobre a face Uma lágrima sem destino.   *   Perversidade profunda Esta disputa costumeira Entre corpos de segunda Por ossos de terceira.    

DOIS POEMAS DE JOSÉ RICARDO

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    DAS SUBURRAS [para William Blake e Contador Borges]   Verme-língua roçando pele-safira   gema-serfadita pedra de tarsis cântaros crisólitos   Dédalo em flor esconde faias e vinhas   contra o carmo anáguas sequiosas   * * *   Puns. Caras E bocas. Narizes Tampados. Os dedos Ribombam Não acham Culpado.

TRÊS POEMAS DE NARA FONTES

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  O JARDIM   A orquídea perde a flor vai-se a flor vai-se a cor   Dalias, rosas, jasmins com os pés carregados suspiram ao céu: “Hoje é ela, amanhã, serei eu”   O lírio sorri, acostumado: “Foi assim no ano passado” E curva-se para a flor caída ao seu lado   Lolô chega por ali pula, pula late, late   pega a pétala no chão da amiga desfolhada   Vai-se a flor vai-se a cor ficam o cheiro e o sabor   e vai brincar de saudade até a próxima florada     FRAGILIDADES cerâmica trincada elos partidos  desatados átomos esquecidos não mais amálgamas não mais o prazer da descoberta do avesso a mão amassa o barro sonolenta     NOSTALGIA Ata-me em teus braços Faça-me poema Dispa-me dos ais Arvora-me distal antagônica manhã nostálgica mulher    

DOIS POEMAS DE ANDRÉ VIEIRA

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  UM LAGO DE PEIXES   Enxergo-me na água Vislumbro um futuro, assumo: Eu, reflexo: o nada. * * * Veem vento, voz Na história de sobras Cascos, caracóis