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Mostrando postagens de maio, 2022

SEIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

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  METAVERSO   I   Olhar incrédulo pela fenda que descortina o escuro.   Cai a noite no Japão enquanto aqui o dia arvora   em dogmas de luz e escolhas cruciais.   Feições somadas à vida onde a dor é real:   vejo todo sofrimento escorrendo do seu rosto.   II   O que querer nessa construção de amanhã possível?   Um cacho de palavras dos seus cabelos encaracolados.   Histórias sem limite de tempo e desejos imperceptíveis.   (Quantas imagens cabem no semblante triste da tarde?)   III   Minha feição de ontem na manhã desse espelho:   olhos vermelhos rasgados em dramática cena –   céu azul de papel no horizonte rasurado.   Palavras ínfimas a reinventar na terra   paixões agregadas a sentimentos comuns.   IV   Como edificar o corpo em grãos de acasos   (átimo do tempo de indestrutível silêncio?)   Um poema a mais no prenúncio da voz   somada ao caminho de aparentes passos

SEIS POEMAS DE NILTON CERQUEIRA

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  HORIZONTE DE EVENTOS   além num furo sob borda captada buraco negro engole impensável véu de luz sem sombra de certeza a não ser a falsa cor quente que em laranja engana   ÂMAGO   ventre do vento vem assovio agudo   fundo da fenda escoa fluido aguado   dentro do nome engendra-se o que dele some     UM VIÉS PARA SÍSIFO   I   crente no eterno Sísifo já cansado acima carrega pedra   pedra escorrega queda nutre a mesma espera penitente   redonda, perene sólido tempo que se remonta espelho esférico   inamovivel norte findar reincidente para o desde sempre sisudo Sísifo   eis que ele, num susto, tudo largou: percurso e pedra   qual coisa ocorrera a Sísifo, escravo já moldado à forma dessa sina?   aquele estrondo, vindo do furo encoberto pelo reflexo da esfera deixou-o tonto, ferido   Sísifo se desfez e refez, num relance qual este súbito alcanc

UM POEMA DE MÁRCIA TIGANI

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  SINA   A palavra que contemplo é   enigma: sonho reverso à rotina natural. Acolhe-me na madrugada e pela manhã me mata.   A palavra que contemplo é rude: essa   com a qual   flerto não é   vida, nem   morte Pedra bruta, campo árido Signo da sombra? Ou nuvem de sorte?   Eu   a   contemplo    e   à um só tempo vejo-a nua, em seu   sono inerte e mineral. . Não tem pele ,ou rima Argamassa(ou sina?) Poema   ocasional.  

DOIS POEMAS DE NARA FONTES

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  PRAIA. PÔR-DO-SOL na linha do infinito um grão de areia despede-se do tempo não o impedem a noite, nem o dia ondas lavam cristais riscados pela aurora levados na maré revelam diálogos cravados na memória pegadas na areia denunciam companhia chegadas e partidas espelham faces acordam sentidos na solidão sem volta uma gaivota anuncia o entardecer enquanto estrelas-do-mar sinalizam o caminho   FIO CONDUTOR   abrem-se vãos que separam mundos caminhos levam ao caos   onde o fio condutor se rompeu? onde a lança distrai o tolo e rasga a carne?   bárbaros profanam altares   olhos cegos de ambição cintilam moedas de troca por almas pagãs   onde o tolo rasga a carne e distrai a lança? onde o fio condutor?   bárbaros erguem altares ao profano   mãos preparam a terra acasalam sementes com flechas de açucena   distraem a carne do tolo que fere a lança   aos bárbaros deixam o altar profano   pintam o rost

TRÊS POEMAS DE JOSÉ RICARDO

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  DE UM DÍSTICO UTERINO   em choro irrompe sangue   cava um buraco serve a pele   de um bode espada em riste   o chão não serve   da vala espada em riste   só o choro de anticlea     VARIAAÇÕES SOBRE SÍMILE   caixa de fósforo palitos queimados   como a parafina de uma vela votiva   como pregador a comer o pão ázimo   como pássaro em visgo embeiçado em azeite   como cilício a crismar o silêncio devoto   como mortalha à espera da carne   ***   rubi rubra a poltrona encarnam nádegas paredes brancas   no silêncio da graxa as pernas prolongam o caminho das coxas carnes-fole amontoam o estofado aveludado à espera no cine privé