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Mostrando postagens de junho, 2021

UM POEMA DE SIDNEI OLÍVIO

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  RUMORES COLOQUIAIS                         para Jorge Amâncio   1. o mundo navega numa geografia de ruídos   linha de rotas roteiro de sons excedem a prosódia   o prelúdio de vogais na boca imutável de um xamã   silêncio inexistente além do breve espaço sem tempo   dentro de uma bolha de sabão   2. o segredo da eternidade dentro da bolha de sabão   partitura de silêncio antes do infalível arrebento   (modo de morte das estrelas para o universo existir em novo arranjo)   marcha tonante de sílabas graves na mesura do poema   que o mundo grita em sua verve primal

UM POEMA DE EWALDO SCHLEDER

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    JANELA IMAGINÁRIA   A vida é a única massa de que dispomos ao todo, ela e seus componentes: material de fogo e vela, pedra, água, ar. Dor não importa, nem as flores, nem por que os homens (se) matam.   Viciados a exalar ópio. Eros em piracema. Abismos nos altiplanos, prosaicos naufrágios, grande aventura de fome e sede. Serpente sufocada.   Desbordar calor e sombra, tomadas ao vento e ao sol. Lamber sais de outra pele. Olhar pela janela imaginária: umbral das cavernas íntimas, cena colorida por raios escritos à luz. Azul nos trópicos, gris nos becos, cenário rubro, súlfur: a esperança.            

UM POEMA DE PAOLA SCHROEDER

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  Moldura feita de ramas sobre um corpo úmido. As marcas travaram às duas da tarde. O pêndulo parou justamente naquele segundo. Imagem sequiada em véus e mantos sem alarde. Desceu correndo as escadas, antes fosse ele que tivesse ido. Diante da finitude e de tudo que é profundo, onde já não há espanto, tampouco grito.

UM POEMA DE CELSO VEGRO

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  METAMORFISMO   Vocábulos sopesados na balança da alma, reinventam o gozo.   Sintaxes elípticas em aberrações silábicas, refonemam líricas.   Imagens aliviadas de toda a intriga, reverberam ufania.   Cenas amalgamadas nas rarefeitas nuvens, retecem a graça.

UM POEMA DE NILTON CERQUEIRA

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  INSCRIÇÃO SOBRE PEDRA   Um homem fita o epitáfio no túmulo vazio (mórbido mote em que me fio) Nele se queda um ilegível lema Cúmulo do corpo em ato empunhando a pena   Na página lápide lapidada De mãos à morte dadas... Como pôr o que se precipita da vida Em tão curtas letras escritas?   Que orla de loucura Que misteriosa aura Quanta vaidade (fundida no extremo da coragem) Depositadas junto a micróbio e cinzas Na derradeira paragem infinda   Numa passagem intensa e rara Rainer Maria Rilke antecipou o epitáfio em palavras Imaginou fixar o sem limite Inscrevendo aí um além: “Ser o sono de ninguém”   Terá o poeta neste momento sentido Como se chegando a ser alguém? Quanto tempo viveria este escrito? Ou já ali jazia um defunto reticente Resistindo com sua arma mais potente?     O sujeito oculto em mármore moldado Incrusta-se firme ao abrigo do acaso Na escura forma da urna oca Redivivo na cor da pétrea tinta No ritm

UM POEMA DE ANDREA DE MORAES

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  SOB O OUTONO   No meio da noite Uma mulher caminha: Tudo em suas mãos Seca e fenece   O tempo onde ela mora É incompleto e tênue Semelhante à semente Interiormente apagada   No meio da noite Uma mulher caminha: Na frente de uma porta Que só abre por dentro   E depois a porta Se abre ruidosa Sob o outono

UM POEMA DE ALEJANDRO LLORET

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  indago o que não tem uma origem fixa ou o que não mostra suas margens para serem pintadas numa tela limitada  às cores de uma janela. filosoficamente ou não estamos todos perdidos desde a tempestade de formigas do inverno de 2020 diferente do plotter do templo e as intemperanças do tempo ou as tempestades que destroem pedaço a pedaço o cérebro invadido. invasões. inovações. rotações legíveis versadas em gamas de amarelos para tingir as folgas.  ações no disco ótico do prepúcio responsável pela cegueira irreversível dos elefantes arredor. ou diga-me como queres organizar minhas perguntas com tantos canários em cada dedo de tuas mãos. subo a rampa não subo a rampa subo a rampa sem deixar os  tensos pés em bispo como se fossem zês espantosas suspeitas do alfabeto no caráter de uivo sem uivo à direita do padre. diga-me como seremos semelhantes se te miro pelo olho do tucano enquanto supões que pelo fato de dedicar-lhe tempo à observação das gramíneas poderás separar os óvulos fecundado

UM POEMA DE JORGE AMÂNCIO

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  INCOMPLETUDE EXISTENCIAL   brincou de boneca pera-uva-maçã chuva peteca bom de bola de briga pipa rabiola bom de lágrimas corte costura dança esgrima   o sol raiava a solavanco tristeza raiva frustração pravidade social pulsão irracional   pós-modernidade melindrosa desativa ombridades     na cabeça expectativas desastrosas   no branco masculino   não se via nos livros de poesia não se lia no som do violino não se ouvia   o choro válvula-menino de escape

TRÊS POEMAS DE LOURENÇA LOU

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  PRAIA DE CABO BRANCO   : um deus desconhecido ou escultor da poesia?   tem altura e altivez para ganhar minhas indecências até em jogo de xadrez     ***   de sombrinha e salto alto leio joão cabral de melo neto recostada na cadeira de praia   entre sabiás e palmeiras da praia de cabo branco surge o poeta escultor   olhos de enigmas me perfuram areias engolem meu juízo mãos me acendem fulgurâncias   arregalo-me por inteiro não sei disfarçar o verbo amar     ***   lâminas de sol anunciam dia respiro caos e papel   descubro: foram sonhos adormecidos desejos sem ética lógica égide   talvez golpe da inconsciência :excesso de bolor do livro que o poeta não abriu.     À HORA EM QUE AS SOMBRAS DESCEM   em meio à obscenidade das cruzes um olho se arregala   do azul nascem pássaros a tangenciar voos partidos   crianças saltam do sono para a mira de fuzis   mulheres tecem toucas para bone

TRÊS POEMAS DE PAOLA SCHROEDER

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  VENTO FECUNDO   A vergonha apodera-se das palavras obscenas.   O que se pensa e lê escapa como silvo do vento.   Fechada em mundo, desnuda, toda pele.   Tangencia, corta e toca.   Me embaraço entre as letras que agora são minhas também.   E como todo campo fértil, um dia será fecundado.   TALVEZ BRILHE EM SIGILO   Aquilo que absorve, não amanhece o mar.   Olho em preto e branco se esconde na pupila.   Tanta fome fugaz subnutrindo a palavra.   Anda rouca desmembrando o sentido.   Torna o terno em mentira. Fere a vista.     PANTA REI   Folhas secas no chão esfareladas pela pressa.   Nunca se vê quando o verão as abandonou.   Respeito a nudez dos galhos que sobrevivem.   Não vejo do outro senão o inverno que de longe congela meus olhos.   Sua língua morta ninguém escuta.   Manhã rasga com sua faca o verso. Tua dor não me permite a poesia.   Meu silêncio não repousa.   Abdico d