DOIS POEMAS DE DIRCE CARNEIRO

 










VIDA E MORTE


Exorcizo o medo
voo sobre a cidade
vidas desconfiadas vagam
emudecidas
a fala é ponte ao perigo

Dar as mãos é proibido
o andar é solitário
viver ou morrer, aleatório
mesmo tendo feito opção

Despedidas tristes
humanos vão
sozinhos daqui
do inferno –
para onde?
Recolho as asas
pouso na janela
último olhar
lá fora

Já confundo
o imaginário projetado
na tela cibernética
no livro aberto
as notícias planetárias

com o mundo após a janela

 

 

TAÇA INGLÓRIA

A noite entrou

não há lua nem estrelas
os símbolos

as letras

o canto

são meros bibelôs.


Sonhos repousam num barco

no fundo do mar.
águas turvas agitam o mar

há vermelho borbulhando
e não é o néctar vital

nas veias do oceano
é o sangue das artérias

do corpo desfeito

das palavras surdas
é o sangue

da insensatez

da vileza


Casacas brindam

o luto cravado

nos corações de muitos
são loucos

tolos


Nada a celebrar

não há ganho
perdeu-se o elã

do mapa desenhado


Não pode haver brinde 
quando a conquista é vil
quando se cravou

um punhal na crença


Lá fora...aqui dentro...

não há regozijo
os que brindam

olham para as masmorras
para as correntes

para o corpo infantil prostituído, 
para corpos aviltados

para os que dormem na sarjeta, 
para o nosso ouro que se foi
e que ainda irá


Não há ganhos.
Quando se é um

a vitória é de todos...

e a derrota também.
Que será?


 

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