UM POEMA DE LUCIANA BARRETO
O MENINO, O POETA, A LUA
O que pode um poeta
senão o gesto largo
o olhar desprendido
a partida precoce
O que responde o poeta
ao mirar a cisterna
descer as tarrafas
entrever o nome
e perseguir a imagem
(perdida, impossível)
O que perde o poeta
no rigor da recusa
no esquadro de aço
na palavra facetada
O que alcança o poeta
ao inverter o ponteiro
sopesar o mundo
esplender o vitral
O que resta ao poeta
senão a falta
o susto
o salto
e sempre (sempre)
as meninas do Recife
as malhas da busca
o livro iluminado
o Jardim suspenso
Pois na travessia insone
– deserto de mil sóis –
por entre flores incendiadas
e margens flutuantes
o menino beduíno
para trás volta seu rosto
– e ri (grave, travesso)
com seus olhos claros
Em suas mãos
o lírio arrancado
o pássaro benélovo
a lua próxima
e – por fim –
ante o retrato ainda vazio
o pedido dos homens:
a palavra em júbilo, o canto antigo
a maçã há tanto intocada.
Comentários
Postar um comentário