"A poesia parece estar mais do lado da música e das artes plásticas e visuais do que da literatura. Ezra Pound acha que ela não pertence à literatura e Paulo Prado vai mais longe: declara que a literatura e a filosofia são as duas maiores inimigas da poesia. De fato, a poesia é um corpo estranho nas artes da palavra. É a menos consumida de todas as artes, embora pareça ser a mais praticada (muitas vezes, às escondidas). Uma das maiores raridades do mundo é o poeta que consegue viver só da sua arte. Há dois mil anos, o poeta latino Ovídio dizia que as folhas de louro (com as quais se faziam coroas para poetas e heróis) só serviam mesmo para temperar o assado. E como poderia ser diferente? Como encontrar um modo de remunerar o trabalho e o ofício de um poeta? Rilke ficou treze anos sem fazer um único poema; Valéry, vinte e cinco anos! Outros consumiram boa parte da vida escrevendo uma obra (sem exclusão de outras) : Dante, vinte anos para a Divina Comédia; Joyce, dezessete, para a...
GALO-DA-CAMPINA A aridez do planalto seca a voz enternecida. No rasgo da boca palavras turvas ofuscam o tempo nesse mundo real. Inverossímil manto cobre o mapa do horizonte – derretido espetáculo sobre a face da verdade. Da janela que espreito a rua ecoa um grito derretido e das cinzas do fogo que tudo consome, nos salva : ouçam o bater das asas do pássaro em voo. RENTE À HORA O dia termina como inicia – repleto de intenções e escolhas: o equilíbrio das cores, prefácio que explica a obra, a eterna dúvida do fim. Meio-termo entre poesia e prosa, cinza do céu, garoa fina. Esperança do beijo, amor rente à hora, sina cercada de aço. Um rosto desconhecido: troante desejo deste abraço mudo. FACTUAL Nada pior do que a certeza Arrisco um olho ao risco do espaço desabitado a...
Claudio Alexandre de Barros Teixeira / Universidade de São Paulo Camilo Pessanha lecionou filosofia no liceu de Macau, então colônia portuguesa, onde escreveu ensaios sobre a história, civilização e artes do Império do Meio, colecionou objetos de arte – pinturas, esculturas, caligrafias, cerâmicas, peças de bronze, bordados, joalheria, indumentária –, organizou o primeiro manual que se conhece para aprender chinês: Kuok Man Fo Shu – Leituras chinesas , redigido em colaboração com José Vicente Jorge, e publicou traduções de oito elegias da época da dinastia Ming, valendo-se de seu conhecimento do idioma chinês – conhecia nada menos que 3.500 caracteres ideográficos. Em carta de 1912 endereçada a Carlos Amaro, o poeta português escreve: “Bem desejaria publicar um dia meia dúzia de pequenas traduções, mas a empresa, a ser a coisa como eu a tenho esboçado, é cheia de dificuldades [1] ”. Considerado as características da língua chines...
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