UM POEMA DE NILTON CERQUEIRA
DE ONDE VEM AS ONDAS
I
arembepe irrompe
menino sob sol
sorve luz
verte imã
arempebe amor
murmúrio, muito
mãe manhã,
maré mulher
arembepe praia
nunca inunda
boca salgada
salpica riso
arembepe mar
azulada sílaba
ondulam lábios
minúcias reverberam
II
arembepe fala
garganta enigma
tremida pronúncia
escapa, gutural
arembepe primevo
remontada memória
veraz, vivaz, voraz,
tempo inconsumivel
arempebe tupi
nativo traduz:
“aquilo que nos envolve”
a qual além aquilo alude?
arembepe amálgama
nem mãe nem pai nem eu
medo breu quarto inteiro
só escuro era corpo
III
arembepe areia
fogueira canto noturno
adulto mundo distante
quase tudo aquece
arempebe senda
recuo, rasgo, agora
imagem isca
margem de risco
arembepe remanesce
litoral altera-se: literal
raro, roto, ralo
resto algo luminoso
arembepe vôo
à flor da pele, pousa
pausando pressa
cede passagem: sonho
IV
arembepe desaprumo
ruínas erguem
ruídos rumores odores
resíduos dispersos
arembepe lenda
lêndea longeva
sanguíneo parasita
vida exilada
arembepe eros
tez exposta alucina
multinomes-cores
cenas inseminadas
arempebe ar
embebido d’isso
úmido, lúdico
arisco, insiste
V
aquém arembepe?
quem há de saber?
some, mudo
último íntimo instante
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