DOIS ORIKIS DE JORGE AMÂNCIO



 










A ENERGIA QUE MORA DENTRO DA ÁRVORE

 

trindade divindade

matéria viva criação

quatro elementos

Irocô-ancestralidade

 

morada trono floresta

árvore-macho corpo-lapidado

ciclo temporal quatro estações

Irocô-segundo-minuto-hora

 

raízes aéreas cármicos amores

eras-climas obras-primas

quatro pontos cardeais

Irocô- espaço-liberdade

 

o tempo dá e tira - a folha vira -

ora em exu ora em oxalá

liga pelo ar – o céu à terra -

Irocô-vento mundo-movimento

 

 

 IROCÔ! IROCÔ!

 

milícia excelsa

Tempo

filho de Nanã

 

gameleira branca

família

Oxumarê, Iewá e Omolu

 

figueira branca

energia

árvore de Olorum

 

laço pano branco

Sagrado

morada dos Orixás

 

Eró! Eró!

 

 

A MEMÓRIA DO INEXISTENTE

 

Nada havia

tudo era noite

o dia não sabia

nem a noite existia

 

do Nada

surge Nanã

Nanã não se via

nem Nanã existia

 

de Nanã

surge Dan

- Dan serpente -

nem Dan sabia

serpente não existia

 

Dan-serpente

gira - gira - gira – gira

no oco oroboro

corpo rocha fogo

 

de Nanã

surgem Ewa e Irocô

sem Ewa

Irocô não existia

sem Irocô

Ewa não havia

 

árvore tempo árvore

Irocô Irocô Irocô

nada existe

água água água

Ewa- Ewa- Ewa

tudo há

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POESIA

"A poesia parece estar mais do lado da música e das artes plásticas e visuais do que da literatura. Ezra Pound acha que ela não pertence à literatura e Paulo Prado vai mais longe: declara que a literatura e a filosofia são as duas maiores inimigas da poesia. De fato, a poesia é um corpo estranho nas artes da palavra. É a menos consumida de todas as artes, embora pareça ser a mais praticada (muitas vezes, às escondidas). Uma das maiores raridades do mundo é o poeta que consegue viver só da sua arte. Há dois mil anos, o poeta latino Ovídio dizia que as folhas de louro (com as quais se faziam coroas para poetas e heróis) só serviam mesmo para temperar o assado. E como poderia ser diferente? Como encontrar um modo de remunerar o trabalho e o ofício de um poeta? Rilke ficou treze anos sem fazer um único poema; Valéry, vinte e cinco anos! Outros consumiram boa parte da vida escrevendo uma obra (sem exclusão de outras) : Dante, vinte anos para a Divina Comédia; Joyce, dezessete, para a...
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