Postagens

Mostrando postagens de maio, 2021

DOIS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

Imagem
  PENTE DE TARTARUGA E FLOREIOS DE COBRE   I corpo coberto de cobre mãe dos pássaros e peixes narcisa dengosa deusa do amor-desejo atraente depravada deusa da beleza-riqueza alegre-elegante deusa fértil-do-luxo-luxúria   II cura a doença com água fria cura a criança e não apresenta a conta   torna boa a cabeça má desvenda a origem da maldade   chega e a perturbação se acalma me chama e segura minha mão   III da pele muito lisa pássaro de pluma brilhante altiva se diverte   agita as pulseiras e dança dança sem pedir dança e pega a coroa dança nas seivas da riqueza   vestida de veludo dona das penas de papagaio joias de cobre sólido   IV mulher coroada de ouro sua palavra é suave como alguém famoso tem um título e viaja todo mundo a saúda   ] não existe lugar onde não se conheça Oxum [ Ora Yê iê, ô!     PARA UM BROTHER AMIGO   pela traição um frágil poeta de africanidade or

DOIS POEMAS DE PAOLA SCHROEDER

Imagem
  ONDE A BELEZA SE ESCONDE   Relicário onde o sol sublima. Meu olhar decadente.   Fim de tarde revoada de rosas. Minha infância envelhecida.   Amarelo que te quero azul. Signo suspenso na boca.   Tão suave que parece etérea. Dedos a desfolhar o mar.   Areia furtiva furta-cor.   Memórias em ramas. Mão cadenciada no rosto.   Escuridão reclama tua ausência. Teu jeito solar esquecido na lembrança.   Me acolho em sete chaves. Desperto minhas sombras.   Beleza se põe sob meu choro. ESTRANHEZA   Montanha flui sobre ossos.   Aqui o mar.   Olhos, sombras. Acordar é um susto.   Aqui o inominável prestes a partir.    

DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

Imagem
  O AMOR NÃO CHEGA EM CORES   personagem autômato do cotidiano feito de dramas era dela que eu falava   estrela onde tudo ao redor gravita e cristaliza o gestual expandido no foco   das vestes estampadas da espada nas mãos a perfurar o real   (a vida é sua arma)   o gesto e o ato além do enquadramento como se fosse um enigma   tudo se transforma o mundo sem cortes alheio à poesia   simulação de equilíbrio as cores do artifício dissolvidas em cinza     O EXTINTO VERBO DA AURORA   caminho entre os entulhos da avenida desfigurada.   o tempo ainda úmido não recorda o dilúvio.   no palco da culpa discreta luz encena   o escuro da lama sobre o asfalto os automóveis   sobre as casas. (retorno ao barro      molde de nenhuma vida.) lanterna que se apaga.   resta tatear o escuro em busca da manhã   quando a alegoria enfim se completa.

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

Imagem
  O GRITO   calçadas de ossos rasgam debilidade dos pés   morcegos perfuram olhos com suas asas de amianto   na cama amontoam-se títulos cores tamanhos   sapatos sobre livros mutilam as misérias em prosa e versos de poetas malditos   homens gritam indignação apontam manchetes de abusos vícios violências   filhos mães mulheres seguem silêncios em procissão desmentem em close up roxos a trincar rostos   rua se afunila em entulhos encimados pelo grito de munch   clarão explode nos ouvidos   sol atravessa manhã acorda acidez da realidade.          

DOIS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

Imagem
  DO ABSTRATO   Uma lâmina sem fio, dos seus dois lados só um interessa: o que reflete transparece   denuncia a vida real.   Essa lâmina não mostra o corte viral da verdade nem seu reflexo existencial, só revela a imagem nebulosa (irritantemente sem foco).   Um retrato do eu, quando vagabundo do eu sem-vergonha ... desatadas as engrenagens, o concreto projeta o abstrato: no espelho.   MILAGRE   era dessas sementes desacreditadas que o vento rouba da relva ciliar e planta na outra margem do rio pelo milagre do bico do pássaro  

DOIS POEMAS DE CELSO VEGRO

Imagem
  MARÉS   Órbitas oculares eloquentes sustém retinas entrecortadas.   Pupilas distendidas entreolham-se arpejo intermitente- mente: estalido.   Olhar furtivo Escancara estreita fímbria   Êxtase da begônia branca ou amarela que tremeluz entrelaçando marés APARÊNCIAS   Olha: celuloide gasta filtra o sol do bueiro, assoalho para despojos.   Mira: vicejam fetos, pasto para lagartas mascarem em falso.   Vai: presencia a queda do fruto, âmago da espera pelo aprofundar da Terra.   Fica: sob o assovio do vento corta teus pulsos, poço de turbulências.    

DOIS POEMAS DE LUCIANA BARRETO

Imagem
  NÁUFRAGOS   Tudo o que ao mar lançamos impiedosamente nos é devolvido: seja aquele pedido débil – e insistentemente renovado – em rito flores espumas seja o clamor mais secreto a ecoar antigo em garrafas trôpegas a vedar silente o grito grave a ave presa, o brado náufrago   Tudo o que às águas fundas confiamos – atestado de nossas misérias tantas – a nós brutalmente volta em sua fatura de sal: o canto (impossível) das sereias de Ulisses as pegadas dos banhistas a areia varrida pelo vento do norte   Mas no farol azulado de Creta sempre acesa aquela ternura vaga a saudade rubra das mães febris e o suspiro sem porto de mais – e mais – amantes.     REGRESSO   Daquele corpo não conhecera pouso Daquelas mãos não colhera acenos Daquele leito não divisara aurora Mas é desse céu envidraçado (estrelas recolhidas dentro) que me sei vento solto cordilheira úmida regresso infindo

UM POEMA VISUAL DE CELSO VEGRO

Imagem
 

UM POEMA DE EDIR PINA DE BARROS

Imagem
  RECICLAGEM   Pois tu não vês, amor? A chuva cai serena, escorre sobre a terra, a renovar a vida a recompor o solo – e quem com ele lida – assim sempre a cair a tudo reordena.   Pois tu não vês, amor? A vida está tão plena! Renasce aqui e ali – com nada se intimida – enflora em mangueirais, ressurge da ferida que o estio produziu e em tudo nos acena.   Não poderias ver... Sentir tantas mudanças, tu vives no passado e disso não te cansas, sem esgarçar os nós que amarram velha trama.   Não percebeste, não? Eu renasci do estio me recompus também – da dor até me rio – e a vida viça em mim, dentro de mim se enrama.  

UM POEMA DE PAOLA SCHROEDER

Imagem
  À BEIRA DA PALAVRA   Tua nota muda quase uma flor.   Rio à beira, água da palavra.   Voz que não vibra um verso.   Teu canto é mais um conluio entre o silêncio e o verbo.   Ainda assim descobrir - por fim - tua língua.

UM POEMA DE SANDRO SILVA

Imagem
  RETIRANTES    Venha comigo Fujamos juntos daqui Sigamos firmes para longe O mais longe que pudermos Chegar   Deve haver algum lugar A uma distância segura Em rumo oposto a outras sinas Distância calculada a passos aleatórios Desgarrados da massa seca de origem Distância que aplaca a infame fome Inalada junto ao ar insosso da resignação Distância que estraçalha os medos Benzidos e cravados na pele exposta Enrugada pelos dias de tanto Queimar   Buscaremos um canto Para disfarçar a insepulta tristeza Represaremos nossas lágrimas Para não irrigar ambições alheias Seremos sempre nós Sossegados, em comunhão Na sequência dos dias e das estações Cabeça erguida sobre o corpo combalido Sem deixar que o horizonte ofusque Nossa visão clandestina e invasora Até onde nos neguem Adentrar   Apenas venha comigo Combinaremos o resto pelo caminho Não me lance este olhar resinoso da dúvida Eu lhe imploro Nem tente me convencer do