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Mostrando postagens de junho, 2020

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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PERIFÉRICOS fogos atraídos pelos estalos da pedra raios a rabiscar a mendicidade da rua vidas a vomitar enxurradas de delírios na escuridão dos estômagos vazios procissão de mortos vivos carne rasgada a percorrer noites em círculos.

UM POEMA DE CARVALHO JR.

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LUNA no quibano do olho, cangula a noite a negra lua. salteia e dança em meus escuros : a cangulua.  - GLOSSÁRIO : * Quibano : s.m. B N. m.q. QUIBANDO. espécie de peneira feita de palha grossa, us. para sengar grãos. (Dicionário Houaiss) ** Cangular : v. ato de movimentar, com destreza, o quibano na separação dos grãos. 

UM POEMA DE EWALDO SCHLEDER

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ARQUI-MANHAS No fundo, lá no fundo eu sei e você sabe o quanto valemos nós, um para o outro. E para o mundo. Nosso mérito é a coragem de enfrentar a vida e suas artimanhas, arqui-manhas. Lá vamos nós a bordo da carroça cotidiana,  noite além. Não tememos breaks súbitos. Nada tememos, até demais para falar a verdade. O sol arde, reflete e nos põe a pino no meio da tarde. Friorenta e dengosa, a lua se oculta na neblina da noite. As memórias se repartem no escuro um tanto aquém, outra parte além. São desvarios de um lobo faminto, solitário.  Te conduzo pelas mãos e nos perdemos, ambos a esperar a luz sinalizar a manhã

UM POEMA DE FÁBIO MARTINELLI CASEMIRO

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HINO AOS MORTOS para Rodrigo Cerqueira e Ricardo Carpin Meus amigos todos estão morrendo E eu aqui me atenho cerrando os dentes Não vejo mais nenhum futuro à frente E então me sento à janela dos temores São tantos fantasmas e seus odores Na fronte fria do meu pensamento Repouso as alvas flores no cimento que cosi prá cova dos meus dissabores Cansei de ir ao céu divino, amores, união dos sonhos todos, da utopia, apodreceu o manto em céu de horrores não nos liberta agora, que já tardia O lábaro que ostentas estrelado O roto verde e louro desta cama faz do futuro o rosto de um passado arquipélago de lodo, sangue e lama.

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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INADEQUAÇÕES conta os cortes dos quartzos e das ironias dias fatigados e vacilantes de um desejo in adversum na carne traída costura-se sobre lâminas de vazio e aridez seios fartos das ausências ventre sem útero sem sementes soluços mudos seu enredo é a profundez do acender-se no fogo sutil de seus icebergs e aceitar-se nas afonias de seus desertos.

DOIS POEMAS DE CARVALHO JR.

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CAMPO-SANTO é sombra de quintal e silêncio a pedra que me cobre inteiro. o canto de um choró-boi garganteia a despedida, na minha cruz de pau, flor arrancada dos dedos de um ancestral jenipapeiro. TAPUIA Há palavra inventada para o que teu sorriso esculpe? para o voo de luz que se embrenha nos parques e borboletas do sonho? para a margem esquerda de um céu, de sílabas mansas, que me fluem como uma ponte sem nome? Nem mesmo Neruda concebeu o ímpeto da cascata do teu riso. E as lavadeiras, em coreografia, pedem um dilúvio dessa flama-opala que sombreia o homem no quintal. As lâmpadas da catedral, que se esboçam nos teus lábios quentes de tapuia, me inundam de volúpia, me ungem o corpo todo de cupuaçu e água de rio.

DOIS POEMAS DE JOSÉ COUTO

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BOI BARROSO meu boi barroso meu boi araçá tua carroça de palha tá cheia dos butiás adeus arambaré barra do ribeiro tapes e outras trilhas vou pelo atalho olhar o mar se me perder tava relendo cobra norato lendas do sul grande sertão pé de pilão batata cozida, mingau de cará se o minuano não assoviar se o boi barroso da cara preta não tropeçar na capivara pé dentro pé fora digo adeus e noves fora SONHOS é o livro dos poemas freguesia poesias de algodão rosa creme, chocolate e goiabada poesias bem fresquinhas e deliciosas feitas na hora! e a promoção do dia: leva três hacais e dois sonetos acompanha um pôr do sol ou um céu cravejado de estrelas de cortesia

UM POEMA DE EWALDO SCHLEDER

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EU E MEUS OUTROS Não há no presente ou nele não encontro alavancas para o prazer aqui na terra, ou reconhecimento do céu. Vou ao passado e me deparo com as causas dos meus remorsos. Vidas paralelas, separadas, distantes. Sem confluências. Sei de você, vejo você mas não a alcanço, não posso tocá-la. Estamos em paralelo, rumo ao nada. Eu e meus outros formamos fila para cairmos nas mãos da esperança trajando luto. Se caminhamos céleres pelo campo da barbárie, cada um roga pelo seu destino. Ponho-me no caminho do fim.

DOIS POEMAS DE DIRCE CARNEIRO

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MAREIRO Na praia, não havia escudo. A força do vento vencia o mar cada vez mais perto. Ondas gigantes em túnel, a areia no ar desenhava paisagem imprecisa. Os grãos minúsculos fustigavam a pele, ferindo-a. Longe estava a varanda, o abrigo. Cada vez mais distantes a casinha amarela, a visão da seringueira. Vultos de braços acenando, de repente a mão estendida. Agarrei-me neste barco, a vida. Raio de sol teima em penetrar as nuvens fechadas: depois, só os sinais da ressaca. AFORISMO CAPITAL Ao homem Matar um leão por dia À mulher: ressuscitá-lo

DOIS POEMAS DE LOURENÇA LOU

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CASTRADA em país misógino se ela disser que quer comer um homem será chutada cuspida vilipendiada nunca terá sido estuprada seu corpo como um cristo na cruz e seu sexo exposto em praça pública expiarão sua culpa de existir jogarão merda em sua dignidade seu rosto será rasgado e lançarão má sorte sobre sua descendência em país misógino todos nascem da virgem maria. INEGOCIÁVEL chegou a me sugar vida sem sequer saber traduzir as mortes em meus olhos não entendeu a sequidão da minha língua.

DOIS POEMAS DE JOSÉ COUTO

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JAGUNJAGUN DE BALÒGUN jagunjagun de balògun dançavam o èrúbo bájà, edún ija káwó guerreiros de ifá saúdam korin kunle guerreiros de xangô exaltam òsè ida-oba a figa lá de olodê soprou si ori xirê a estrela lá de ìgamolè é nosso ìmalè é nosso ìmalè Musicado por Xaxá, Ronaldo Ferro e Sandra Gomes Lea BENFAZEJA reza das ajés iá mi oxorongá com folhas da palmeira do dendê raminho de alegrim tira do meu peito enxovalhado quebranto cobreiro mau-olhado espinhela caída vento virado choro cifrado beba da água da cachoeira antes de entrar na casa de oxalá plante a espada de ógun se deseja saudar xangô colha a folha de iróko depois da lua prateada ofereça ainda orvalhada pra nanã euá orunmilá reza das ajés com folhas maceradas mutamba rama de leite malmequer bravo arruda e noz de obi esfrega nas costas corta na raíz os pés descalços guiné orô orim-rim

DOIS POEMAS DE DANIELA PACE

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GAZAL DO VINHO RUBI Há uma gazela ferida no Bosque do Amor. Dentro da longa noite, sob uma lua em foice, o caçador arrependido bebe do seu sangue precioso e embriaga-se. Então, as portas do céu se abrem de par em par, e em seus olhos, como em dois lagos, se espelha o Paraíso. * * * Sacrifico a ti um diamante bruto: minha solidão

UM POEMA DE FÁBIO MARTINELLI CASEMIRO

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Nossa Senhora de Spinoza, dai-me a razão mas não agora Espera o fim da novela que eu escrevi na timeline de minha vida sem graça Um poema é um textão com rima? Isto não é um poema é verdade este isto Desisto ou o poema é um post-it numa propaganda de refrigerantes? Será o poema todo poema uma carta suicida? Quando eu morrer, quero meu poema lido na tela pelo ator famoso da novela Ah, se eu morresse amanhã e descobrissem o plágio mal feito o remendo de poema que me tornei Poesia é story sem música? Ou um bilhete suicida em pod cast? Olá mundo cruel Se eu fosse Manuel isso seria um poema mas não solução E que se dane a metafísica dos encontros: solução de estricnina é para os fracos Adeus facebook! Adeus instagram, Adeus nada, que meu coração de grafite é todynho de belzebu Eu vou é me embebedar de vida. Saio da vida para entrar na escória!

UM POEMA DE MÁRCIA TIGANI

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EPIGRAMA Belzebu alucinado capataz do gado ordenou do convés do seu destróier invadam hospitais! deflorem a Santa Casa! o povo tresloucado defenestrou o sagrado profanou santuários para nosso engulho na sequência: forte odor fétido de coisa esturrada espalhou-se sem dó como inhaca como Timbó ardido do Carcará imoral: um sátiro conhecido como capitão do mato.

UM POEMA DE SCHEILA DI SODRÉ

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VIRAL o povo das sombras caminha entre nós crucifixos cravados na areia seca esperam um rei vestido de mendigo máscaras brancas luvas de látex. um negro asfixiado morre em frente as câmeras perenes olhos de odoyá Caim devorado, cães de caça aviões e drones uploads toques digitais dédalos de luz íons das libélulas gerânios cabeças nas vielas a humanidade geneticamente modificada num patamar quente efervescente antigos deuses frágeis cadáveres vítimas negras e carrascos caminham descalços sob a lava vulcânica.

TRÊS POEMAS DE CARVALHO JR.

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PÉ-D'ÁGUA O passo da pedra, em cambaleio, nos becos mudos do mercado, acorda o pássaro e o homem ao som de uma chuva coralina. PLUMÁCEO O círculo de asas do bico-de-brasa se enovela ao assovio do ancião, como se sentisse cada mágoa no ombro, desmaiado, do mundo. ESCORREGADOR O engasgo póstero do dia desce uma ladeira, calçada de palha, como se imergisse na gamela de um rio com amnésia da infância.

DOIS POEMAS DE DIRCE CARNEIRO

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ADEUS DO ARTÍFICE A sozinhez já se faz estranha excesso a solidão sempre esteve ao lado  gosto reinvenções não confortam mais basta visão de máscaras é macabra susto vidas se esvaindo não são números contam felicidade ri da razão alheamento há um vácuo nas horas que passam inúteis examino o sentido da vida esquálido o hálito da morte perfuma Impõe segrega toda expressão do artista desiste o sol se apaga, desliga espanto último ato olhar às crianças carta MIGUEL Deixado só buscou a mãe encontrou a morte mas o cão saiu a passeio e a unha da prima dama feita – maquiada sem as cutículas justas. As carnes podres das mãos não fazem boa figura social mais urgente é extirpá-las.

DOIS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

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DOR Alvíssaras ao berro, que anuncia a vida. Saúde ao existir, até a última dor (sentir da pele ao tálamo do poro ao grito). Ser feliz é não sentir dor. * * * LINGUAGEM En la numerosa penumbra, el desconocido se creerá en su ciudad y lo sorprenderá salir a outra, de otro lenguaje y outro cielo (Jorge Luis Borges, ‘el forastero’) I ficção não é mentira realidade não é ficção dentro de mim ficção é realidade fora, a mentira finge-se verdade mas não é ficção nem realidade II penso na imposição formal de como se dizer as coisas sem errar: e errar por vezes é humano demasiado humano

UM HAIKU DE JOSÉ COUTO

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a lágrima e o orvalho névoas evanescente manhã

UM POEMA DE CARVALHO JR.

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LÂMINA E LIAME A casca deste chão é o umbigo da minha voz. Do trançado das folhas de palmeira a substância da rosa de Celso Antônio: os meus 24 centímetros de porrete de homem negro brasileiro. A alma cacunda das ladeiras, o uivo da lâmina do machado, os impulsos da mão de pilão, a quebradeira e seus aleijos, o sopro-enigma da juriti-pupu, o cascudo debaixo da pedra . .* * * . Daí o caroço da funda lágrima, o gongo da infância em fogo-sezão.

DOIS POEMAS DE LOURENÇA LOU

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MARIA DA MINA à beira do barranco feia e fria via seus dias virar vazio adormecer fome a lhe doer na barriga seca de choros de leveza de gestos só sabia de seu sustento sob os dejetos onde nem água se via só havia o cheiro podre de enxofre havia o nada dos próximos dias havia a vida a escorrer pela lama da mina vazia de feijão AMOR DE RUA vida beija na boca  estranheza dos tempos pessoas estão indo e não voltarão mais na janela da cozinha sustos brilham em neon claros e escuros dos rostos balançam o ponto seguro lutas abraçam o luto luto abraça a saudade me acolho na feridade amor de rua me acerta suavizam-se meus olhos escancaram-se meus ouvidos.

DOIS POEMAS DE FLAVIANO M. VIEIRA

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SOLADA VINGANÇA saca a cascata da casca da casa impingem lirismo no cume se vê saca a cascata da casa da casca poros inglórios corroem o viver saca o absurdo do fluxo fremente veste ilusória de ácido saber saca o entulho do orgulho demente frágil das plagas que ecoam o dizer saca o asco sentido e surgindo sons de uma gaita que a forma seduz saca o mistério do horror bem nutrido versos que acendem uma estrela sem luz saca o tempo o que faz da memória cede em resposta amarga vitória. * * * FRIA FILOSOFIA DOS BICHOS a raposa mata a sede e a cauda cola o gelo um leão que chega ao lado pra salvar do desespero “morde a cauda e vai embora vou pra casa bem mais cedo só assim não sou caçada a infâmia traz o medo eu sou linda, mas sou manca sem minha cauda no contexto mas não perco a esperança com a morte não me vejo” hoje o dia não é da caça vai quebrando seu espelho

TRÊS POEMAS DE MÁRCIA TIGANI

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TORDESILHAS Minha dor adormece na areia Em praias ocres de utopias. Minha dança é uma sardana, num mundo desigual Terra e homens são ilhas Segregados por cores Meridianos separam e demarcam territórios Mas a minha língua é varia e encontra seu tempo no verso E o verso subverte a latitude para expressar em voz a dor universal. * * * Um barco absoluto e tardio arrasta velas e âncora entre sorrateiras ondas e sorrisos de anêmonas... Anseiam por terra à vista, morte e vida à espreita, Entre a brancura da espuma E o agudo lamento das baleias. As velas, esguias, insolentes desdobram-se no tempo: em tempestade e calmaria cumprem seu destino ao vento A âncora, inerte em seu sono de ferro, na quase paciência de mãe, aguarda o momento certeiro de firmar seu filho ao chão Âncora, esperança em cruz, mão em desvelo, silenciosa elemento atento, mudo, Imagina portos lendários Seguem juntas, em meio a cordas Ao anc

PROGRAMAÇÃO DO LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO POÉTICA DE 08 A 12 DE JUNHO

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Segunda-feira, 08 de junho 18h30: Escola de Escrita Criativa: aula teórica sobre o romance. Terça-feira, 09 de junho 17h: Oficina 20h: A jornada fáustica de Goethe Quarta-feira, 10 de junho 18h: Oficina 20h30: Deus e o Diabo na Comédia de Dante. O Purgatório, cantos X e XI Quinta-feira, 11 de junho 20h: A jornada fáustica de Goethe Sexta-feira, 12 de junho 18h: Oficina

UM POEMA DE LOURENÇA LOU

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H ERANÇA minha mãe escrevia hinos sentava-se ao órgão e melodiava suas ideias as missas de domingo eram menos alegóricas com os hinos de minha mãe meu pai escrevia histórias as mesmas que contava para seus alunos muitas crianças cresceram foice e martelo com as histórias de meu pai escrevo coisas que penso coisas que vejo coisas que acredito serem o legado de quem respirou dor e costurou feridas de suas crenças escrevo com erosões nas veias marcas de espinhos na língua e estupros nos pesadelos escrevo por quem ainda tem os dentes cerrados na própria carne.

UM POEMA DE FLAVIANO M. VIEIRA

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A FOME DOS HOMENS absorto e clemente em harmonia de flautas reclama em sonho fuga e mistério recolhe em si estranhas pinturas e onírico desabrocha o afago das delicadezas foge pela fresta arenosa da rua pensa em alimento e não há o que comer paisagem atrofiada de puro espanto insondáveis na tela dos horizontes doses nuas de maravilhamento ecoam torpor deitado em surpresas ao amanhecer em absurdos controlados de luz e opressão nas estepes inglórias das memórias da pele olha para dentro em cores de espasmos eis o final dos mortos em farturas de fome mil débeis fragmentos de estupor brandindo ao sol desafogando-se em espectros de sono.

DOIS POEMAS DE JOSÉ COUTO

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YANU à revelia do cosmo esvaziado de céu nômade vaqueja no pampa ermo quando quer criar o próprio infinito molda as reminiscências nas ressonâncias do trinado do quero-quero do canto da ema do aulido do lobo-guará milagres ungidos de quase silêncio. A CURA nômade vaqueja no pampa ermo quando quer criar o próprio céu moldando suas reminiscências . há ressonâncias em seu odor do trinado do quero-quero do aulido do lobo-guará do canto da ema milagres impressionam mais se ungidos no curso da natureza

UM POEMA DE DIRCE CARNEIRO

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COVID A vida segue e o silêncio ao redor não é paz