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Mostrando postagens de março, 2022

QUATRO POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

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  MAQUINARIA   1 sentidos apurados na forja móvel do mundo   explodem num êxtase silencioso.   obsessivo desejo de se permitir diferente   que só aos bardos é dado ouvir   o crepitar dos versos em aço.   2 sonoro é o fogo em cada chama   um sussurro entre a palavra dura e o assombro.   não há como fugir da tensão entre os polos   fino efeito que não se quebra em fio.   3 a mudez da imagem   feito pergunta   (: o traço das cicatrizes?) viver é copiar o instante   com a delicadeza da borboleta sobre a flor.     FALTA UMA LETRA APENAS PARA DESVENDAR TEU NOME   Nenhuma resposta, apenas a imagem da cordilheira coberta de neve sobre o fundo azul impressionista, e a citação empírica do trajeto   da escalada: um branco típico na cabeça do Aconcágua, com destinos solitários e íntegra paisagem de pedras   e capins. Postal sem remetente, tuas palavras denunciaram o medo de se perder esq

QUATRO POEMAS DE NILTON CERQUEIRA

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  FAÇANHA DAS CINZAS   corredor polonês pavimenta passagem multitraçada em impasses   história repetida: pesadelo trágico disfarçado, à força, de farsa   de que matéria se faz o ralo por onde disseminam-se demasiados humanos sonhos?   fim da grande guerra contada como primeira sonhou-se, das cinzas, tripa de terra polonesa   história ampulheta de tempo em tempo, se inverte Hitler começou pelo corredor! sangue escorre estreito mortífera aventura   feito um fênix geométrico, geopolítico, gerado nas mesmas polonesas cinzas   renasce corredor agora humanitário reaberto ralo por onde escorre escória quase morta   trapos das trilhas armadas, em tropas homens mísseis lançados rumo ao alvo: refúgio   corredor polonês (registro infantil de dor!) se contrai mais e mais entre pés punhos projéteis pá de cinzas sobre paz defunta     ENTRANHAS DA ARTE MODERNA   ao contrário de Mário

CATORZE HAIKUS DE CLAUDIA SLAVIERO

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  Noite sem luz - ninguém mais se lembra dos jogos de infância   * papa-moscas – companheira de trabalho na volta do feriado   * sob mau tempo hesito em abrir a sombrinha – flor de magnólia   *   vento ondula abre o arrozal eles   se amaram.   *   o estio resseca a várzea eles se exauriram.   *   intangíveis à névoa da manhã, revoam garças.   * ronda noturna leva a todos os cômodos – canto do grilo   *   papa-moscas – companheira de trabalho na volta do feriado     *   sob mau tempo hesito em abrir a sombrinha – flor de magnólia     *   noite sem luz – ninguém mais se recorda dos jogos de infância     *   vasto céu noturno – crianças se divertem ligando pontinhos     *   trilha de formigas – meninas rondam a mesa onde o bolo esfria     *   no pátio da escola reúnem-se tico-ticos – hora do recreio     *   chegam em algazarra meninos e maritacas – tarde de o

OITO HAIKUS DE JORGE AMÂNCIO

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  4 HAIKUS DE BRINCADEIRAS   dança das cadeiras corre-corre alguém vai rodar   mãos em prece riqueza bem-vinda passa o anel   esconde-esconde chicotinho queimado tá quente tá frio   amar é linha vai ao céu vem à terra     4 HAIKUS E UMA CIDADE   nuvens nublam igreja da penha cidade cinza   nuvens poentes pão de açúcar cidade doirada   nuvens noctívagas dedo de deus cidade oculta   nuvens purpurina arcos da lapa cidade maravilhosa

DOIS POEMAS EM PROSA DE JORGE AMÃNCIO

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  MICHAEL JACKSON DO PANDEIRO   juntou uns reais foi misturar chiclete com banana, acarajé com mcdonalds, transformar o habitat natural em música. jack soul brasileiro dança freneticamente a cada nota de desfalque e escândalos. pandeiro e samba desfilam com um brother na cento e nove, com a cueca sobre as calças, um colete prateado, um sotaque e um pandeiro na mão. sem superstição guardou o colete prateado, solenemente retirou a cueca sobre a calça, com sotaque tirou o jackson. michael do pandeiro um brasileiro anônimo sem jackson, com seu pandeiro comprado no brechó da trezentos e sete.   ...me diz quanto foi...me diz quanto foi? ...me diz quanto foi...me diz quanto foi? TUDO AZUL   desabrigados na fila dos olhos azuis, afroameríndios aguardam no último vagão, apartados. barrigas alugam mães azuis que fogem com os bebês. clarões de cogumelos ditam os caminhos desumanos dos destinos. crânio manipula marionete-serpente midiática no salão azul da casa-grande. com garras

TRÊS HAIKUS E UM MINIPOEMA DE JOSÉ RICARDO

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parado em meio à brisa o coqueiro acena aos banhistas   ***   moinho macera farinha de mandioca alguém chora   ***   o bar fecha gargalos gargalham cerveja preta   ESBOÇO DE DEVANEIO   A noite em seu nimbo nuvens brindam às cabeças vazias dos poetas  

UM POEMA EM PROSA DE JOSÉ RICARDO

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  quando vagava notívago abaixo riacho salgadinho. sem sonho só riacho salgadinho. bailava notívago à margem do riacho. chuviscaindo o nome salgadinho. como que o mijo quando escorre em porcelana branca. branca que limpa verde-limo. carregava abaixo todo rio. pedra áspera ao fundo carregava abaixo toda cidade. cada palavra pesa carrega pra baixo toda cidade. cada palavra pesa tropeça rio-abaixo salgadinho. a palavra-tropeço desse tal riacho impeticado salgadinho.

TRÊS POEMAS DE NARA FONTES

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  TEIA na casa ruídos, risos resquícios de falas ouvidos rompem diálogos de silêncio e saudade mãos tateiam teias de aranha bichos em fila formigas em fuga de chuva e vento ondas serpenteiam no pátio da memória café invade a mesa de rosca de polvilho beijos na areia desenham   TRAMA   Fio de água   canta desce trança vida molha chão   Cresce rio  enche mangue  lambe pampa acorda árido    Quadradinho  buriti bem-te-vi lobo-guará    Céu de mar incessante aorta corta norte a sul     BARRA Para Claudia Slaviero Boto salta, gira quer brincar Garça aguarda isca pronta risco prata no ar    

DOIS POEMAS DE CELSO VEGRO

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  Silabas cegas talismã da terra esverdeia o limo.   Isca instante vibra em relance.   ***   Não há formas para o olhar, apenas ancestralidades mescladas pelo incômodo: das alegrias atonais, gritos por socorro defeitos do amor.    

UM POEMA DE MÁRCIA TIGANI

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  BALALAIKA   Ser palavra que define canto canto que desafia fala ser fio que desata nó   vento que sacode a rama   Ser vinho que tinge pano linho cuja agulha   borda sr dança que extrai sangue poema-arma que resiste à morte   Ser espada que risca pele lâmina que recorta vento ser corda que verte música verso que desarma guerra.   Ser linha que define trama ser pedra que constroi história.