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Mostrando postagens de abril, 2021

HOMENAGEM À REVOLUÇÃO DOS CRAVOS

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  LUZ E DIAS - dez mini cantos –   I Saudade: palavra sal a vida por um fio nenhum porto em Portugal nenhuma brisa do Brasil   II Olhar de porto luz de cais ávido parto bêbado aporto ... um náufrago a mais   III Tarde, ensolarada tarde coberta de cinzas e mármore  morte quente  vida fria vertente de ânsia que arde   IV Azar & sal sonhos embalsamados fastos à liberdade - aos vinhos, aos fados - viva a revolução dos cravos!   V Mulher airada dama da noite no gris dos becos teu ceio é lume teus olhos são elos   VI Lisboa - Lisbon líticas paisagens Casablanca livre passagem pelo Algarve   VII Lá se vai o sol por trás das águas lá se vão os dias tanto mar quanta nostalgia     VIII Terra à vista fim das águas o dia não nos vence a noite não nos apaga   IX Versos na parreira tetas ao vento - terremoto - uma fogueira um luar um alento     X Morena do M

DOIS POEMAS DE PAOLA SCHROEDER

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  SUÇUARANA   Afiar as garras no coração. Alforriada, felina no cio.   Presas fazem parte de mim. Unhas negras sangram os olhos.   Pelo envolto em face, seios. Fome que atravessa o corpo.   Fêmea enfurecida espreita o desejo. Arisca recua antes da presa gemer.   Por instinto tua caça é perpétua. Ofereço minha carne.   O AMOR QUE NÃO ESTÁ   “Em todas ruas te encontro. Em todas ruas te perco.” Mário Cesariny   Aberta em pedaços, trago os restos de minha cabeça.   Tormentos se equilibram na ponta da lâmina. Buscas vigentes pela carne.   Quem sabe a dor seja algo sublime. Me separo daquilo que é impuro.   Sem tato, sem gosto, sem língua. Sem manha para linguagem.   Desejo: janela podre, fechada. Uma fresta, por que raios me encontraste.   Hoje silêncio deformado e formalidades.   Olho as paredes que me circundam. Elas voltam reverberando,   saudade, saudade, saudade.

DOIS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

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  ÁGUA AO LADO DO FOGO NO CENTRO DO CÉU   dono da espingarda do céu veste um grande traje vermelho escarlate , nos lóbulos de suas orelha s, argolas, usa colares de contas e braceletes, elegante trança seus cabelos como os de uma mulher. caminha com dignidade, um elefante, um leopardo de olhos relampejantes, lança chama pelas narinas e fogo pela boca, cozinha inhame com o ar que sai do nariz. nuvem de chuva escurece um lado do céu, faz descer o fogo do céu. ajuda alguém com o feitiço, mata alguém com o feitiço, senta-se em cima da cabeça de um cágado, salta com agilidade no dorso de seu cavalo. um louco trovejante, brinca com brasas, combate sem ter culpa, percorre todos os caminhos desimpedidos. derruba a porta e luta com o dono da casa, destrói a casa e no lugar constrói a sua. quebra uma corrente no lugar em que bem lhe agradar, derrota duzentas pessoas na floresta e com as costas estracinha em volta, sai da guerra leve como a fumaça. seu peito queima como matagal aos pés da palme

TRÊS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

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  SOBRE O TECLADO DO NOTEBOOK Olho para minhas mãos sobre a mesa. Vejo a função dos dedos. Procuro o que vai além do que só bulir ou bolinar. Mais do que isso os dedos cobrem o teclado do meu notebook, in totum. O indicador toca as letras R   T   Y   E   F o anelar U   J   K   L   M o mindinho dá o enter e assim por diante. Ainda porém sobram dedos sobram teclas me resta a mão esquerda inteira. Esta toda ela então faz uma outra leitura: agora do braço do violão esquecido. E logo fico seguro que minha mão direita toda ela - com seus dedos - poderá também dedilhar minha balada preferida. Minha mão dará adeus meus lábios um beijo. Ficam os anéis, vão-se os dedos.               GOTA DO ORVALHO NA RELVA Quando longe de mim o ser amado, a amada – suas mãos, cheiro, hálito, voz, passos. Longe, a doce surpresa do seu beijo. Sinto na pele a ordem cósmica entrar em desordem.   O amor, como um sol lasso,