Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2021

DOIS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

Imagem
  A CHUVA BATE NO ESPÍRITO MUITO MOLHADO   coisa vazia a cabeça pode soar   de pé na estrada na dobradiça da porta abre o bico como ave de rapina   sobe no forro derrama sal no molho   na floresta assenta uma pedra (e essa pedra) sangra   a chuva que bate no espírito não passa pelo fogo   na plantação acima das plantas (graças a seu tamanho) vê-se seu crânio   amarra uma pedra na carga de alguém que tem um fardo leve   se o cacto amadurecer come seus frutos   se não amadurecer espera   (que os filhos não sejam raros na minha casa)   laroiê exú. exú é mojubá!     VERSO E REVERSO DO UNIVERSO       I enviado por quem não é visto vem ao mundo sem esquecer comprido cajado de chumbo o grande comedor de caracóis   dono da coisa sagrada do corcunda e do albino o rei do pano branco faz as coisas serem brandas   16 pedaços de marfim búzios pulseiras de estanho caracóis nozes de

DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

Imagem
  CASULO   O espaço urbano converteu-se em terra inóspita. A vida encurtou seus movimentos. Circulado por objetos íntimos, espera cair o fim do dia sobre a cidade ruidosa. A noite arrasta o mistério. Da janela ecoam sons enigmáticos: palavras deslocadas da boca num sopro interminável. Em câmera lenta, sua imagem transforma-se em verbo futuro como se do escuro da garganta raiasse uma luz sem cortes.                  Holofotes da vida solitária: filamento de narrativas aprisionadas num bulbo. Precipita a fuga e desaparece na sombra crescente da lua e da falta dos sentidos que ainda lhe pertence.     DESEJO ESCONDIDO NO ESCURO   A mala sem espaço para etiquetas e nenhum rosto conhecido.   Nenhuma palavra perdida torna-se eco no vácuo das intenções   enquanto o vento perturba o voo ao encontro da espera.   Lembro-me da sua voz inspirar as mais ingênuas abstrações.   O reflexo da nossa imagem no espelho repartindo o tempo dos p

UM POEMA DE ALEJANDRO LLORET

Imagem
  RÉQUIEM   O abjeto é  invenção  inútil: costura de farol falso na flor: concavidade monocípede  (soterra a solidão do planeta): estorvo  (trave do rosto) estampido sobre crusta de  égua definindo- o-tra jeto. (nenhuma evidência ajoelha- se no centro) o corpo: mecânica ob- se-si-va: fratura-rá pida  narra horas de limão  nas pedras. res ponsável: a vida  serve corvos  severamente verdes entre mis (d) entes.  

UM POEMA DE EVILÁSIO ALVES DE MORAIS JÚNIOR

Imagem
  DESABROCHAM FERIDAS   Olho. Não me vejo refletido. Como um vulto, passo.   Os passos periféricos à margem dos fatos.   Nome? Não tenho. Fui batizado com águas do abismo.   A alma desconhece pecados e o mundo dos santos.   Nos pés cheios de espinhos desabrocham feridas.  

DOIS POEMAS DE NILTON CERQUEIRA

Imagem
  A UM PÉ DO PENHASCO   A pedra amparava o pé ante o pulo rio inquieto corria rio abaixo impulsionado por um zunido escuro tudo conduzia o corpo ao salto todavia naquele imenso vão havia lugar para o inusitado: a humana fenda da hesitação! No medo súbito da desmedida altura a sola do pé sentiu a pedra dura aquela sólida impressão  pregou o homem ao chão     (NOITE ÚNICA)   Lábio úmido olhar vívido Olor lascivo Inolvidável viço

QUATRO POEMAS DE SANDRO SILVA

Imagem
  LENTO DESLIZE   ( Tributo a Manuel Bandeira )   O canto suspenso do vento na noite que desliza lentamente no céu. Ressoa como uivos desaforados de lobos em matilhas dispersas a venerarem uma lua fugaz.   No beco sem saída de insidiosas lamentações  o amanhã é mera abstração. Frio nevoeiro a se dissipar pelas paisagens flamejantes vindas de horizontes hostis.   Mas nos adverte o atento poeta: Para que tanto sofrimento Se o meu pensamento É livre na noite?   Eis que então o corpo exige:   Só mais um passo     Só mais um gole         Só mais um canto   O canto suspenso do vento sob a noite que desliza lentamente no céu.     NEM MAIS SEM MENOS     Foi apenas sexo   Sem pressa ou preço sem posse ou peso   Sem fim nem começo sem nexo ou desleixo   Sem acerto ou atraso sem classe com apreço   sem lero-lero disse-me-disse despautério ou mesmice   Almas dispersas corpos exaustos

TRÊS POEMAS DE MARLI FRÓES

Imagem
  PEDRA FILOSOFAL   I   Desvio Tinha no meio da pedra larva-poesia; não era obstrução: era um desvio para   outros caminhos...   II Homem- multidão No meio do caminho tinha o homem-povo: calhau   nas mulheres ! lei do cão povo unido raiz do perigo   III   Pedra do Sono No meio do caminho... palavreando,   eis a “pedra do sono”... A educação pela Pedra! Galos tecendo manhãs... aprendizagem   cabralina IV   Homem- pedra “Se essa rua, se essa rua fosse minha (...) eu mandava extirpar os vários homens   que perseguem   mulheres   e   seus livros   V rocha-mãe pedras parideiras fertilidade, tradição ancestral geologia maternal   pedra vulcânica já foi o fogo que   se encontrou com a água, quatro elementos encenam sob a regência   de Vulcano... respiro fertilização   VI Pedra do túmulo sempre teve homens a enterrar pretos   nas páginas policiais! Pedra lançada: pedra de