Um poema em prosa de Márcia Friggi
Entardece em sépia - crepúsculo antigo. Eu -- fragmentada e
nua -- busco o silêncio escuro e ácido, ninho abandonado de pássaro. Quero a
solidão sem bagagem e encarcerada na segurança de mínimos metros quadrados. Não
posso corromper-me em verdades alugadas, pretendo pensar por mim. Quero um
travesseiro de alfazema para espantar pesadelos, mas o tropel desse sol
noturno, terminal, explode no céu da insônia.
A lua umedece as brasas da madrugada incinerada. Sou esse espectro com a
pele macerada de esperas, esporas do tempo. No dorso da mão trago chaga aberta.
Na palma, o cintilar do verbo -- enigma de estrela. Os olhos, faróis estáticos,
estatelados, antiestéticos, atravessam as trevas da madrugada como um trem
embriagado. Eles têm como destino – ou milagre – cruzar as brumas da noite e,
incólumes, ressurgir aos primeiros raios da alvorada e eu amanhecerei descalça.
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