MENINA ESCORPIÃO (cadáver delicado)
I
[na] duna verde-âmbar do olho
Monte Fuji fato incontornável.
A ventania um vento.
A flauta nas mãos.
A ventania um vento.
A flauta nas mãos.
Chuva de papel picado entre as unhas
verdes –
borboletas da menina escorpião.
II
Os dentes se fragmentam,
formando um pedregulho
de marfim amarelado;
a couve, retirada pela boca,
em tiras finas, não se esgota,
brota mais e mais.
Ao toque,
a pele roseada de veludo
gerou a aversão
e o grito:
era uma pele de peru.
As baleias se debatem na areia,
moribundas,
os corvos já se aproximam;
sonham com tripas.
III
Foi dia quinze de...
não lembro...
Procurando
outra vida,
a sua
tomou outro rumo:
os passos que ouço agora
são ecos do que não fui.
Asas
orvalhadas se debatem.
IV
Não engole esse doce português,
que dentro dele há estricnina.
As espumas sairão de sua boca de beira de praia;
você convulsionará: poeta.
Assim que o vi tão pálido e deserto.
uma larva
sonha
em um
labirinto de folhas
estrelas
paralíticas
encerram
no mofo do ázimo
sua
sabedoria
mas vingará o dia, fio de ouro no horizonte.
V
onde
todos os xamãs
devoram-nos na festa
Língua-leque estanca o verbo
Entretanto o Amor.
VI
Não era impossível que surgisse um verso
mas confesso que aquele olhar cego
um tango por dentro, na alma.
quando então surgem aqueles olhinhos pequenos, vermelhos,
à meia distância do fundo da mata,
à noite,
no alto dos
galhos,
nas furcas,
em meio aos camarões
de brotos de fetos
de samambaiaçu
e a névoa nos persegue.
VII
caos
tanto caos
seres
humanos
se
perdem
no
meio
caminho
do meio
equilíbrio
pensamento
poesia
cura
pura
respira
fica
pacifica
(Poema coletivo dos alunos do Laboratório de Criação
Poética, com versos de Marcela Cividanes
Gallic, Telma Serur, Kátia Marchese, Priscila Merizzio, Fabíola Lacerda, Edelson Nagues, Gustavo Vendrame, Guilherme Delgado,
Beta Guedes, Vera Malaco, Assis de Mello, Maria Marta Nardi, Edir Pina de
Barros, Gerusa Leal, Jade Barbalho, Caio Graco Maia, Larissa Grabowski e Maria
Jacyra Lopes, não exatamente nesta ordem.)
Ficou demais! Como são complexas nossas imaginações e, assim tão diversificadas, misturadas, dá um resultado excelente. Adorei o conjunto da obra.
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