UM POEMA DE JOSÉ COUTO
UMA CANÇÃO-ESTRELA
para Fátima Castro
ofereço-te
esse figo maduro
quando repartido igualmente
desprende o lilás do orvalho em vigília
o roxo dos lábios mordidos em fomes
a nudez de um seio em vertigem
quando repartido igualmente
desprende o lilás do orvalho em vigília
o roxo dos lábios mordidos em fomes
a nudez de um seio em vertigem
aceites
amiga essas migalhas
são meus tesouros os restos
as verdades reinventadas a carícia
na voragem das palavras acesas
por isso
te escrevo essa carta
guardada de silêncios ardentes
e o cansaço afagando a ternura
cicatriza na pele um rio que corre
guardada de silêncios ardentes
e o cansaço afagando a ternura
cicatriza na pele um rio que corre
carregando
em redemoinho
sua tenacidade a rudeza o avesso
o efêmero sal a secura das sedes
o mantra que ecoa o que navega
sua tenacidade a rudeza o avesso
o efêmero sal a secura das sedes
o mantra que ecoa o que navega
invade e
dispersa e serena
ofereço-te tão pouco só sobras
lembranças idas e vividas
meu bem-querer minhas alegrias
ofereço-te tão pouco só sobras
lembranças idas e vividas
meu bem-querer minhas alegrias
leves
quase diminutas cabem
nos cílios nas raízes debaixo
das unhas no pó onde há caminhos
no sopro que forja o irreversível
nos cílios nas raízes debaixo
das unhas no pó onde há caminhos
no sopro que forja o irreversível
te ofereço
essa canção-estrela
feita dessas miudezas e delicadezas
lapidadas na luz fugaz que nos inquieta
somos fractais menores que átimos
embevecidos de compaixão
feita dessas miudezas e delicadezas
lapidadas na luz fugaz que nos inquieta
somos fractais menores que átimos
embevecidos de compaixão
amparados
no abraço
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