DOIS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER
SOLIDOWN
A solidão me mata
se for assim:
vejo ninguém
escuto ninguém
converso com ninguém.
Cibernético,
ouço máquinas
risos
buzinas
ruídos.
Espero trovões
anseio
pela luz dos raios.
Maldigo a política
a pandemia
o escárnio
os escarros.
À beira
da maior sozinhez
de todos os meus dias,
peço licença às cadeiras
discuto com as paredes
afago imagens
tombo na sala.
Sento e leio Buda.
De súbito,
vindo do nada,
acordo
no meio de lugar algum.
O som é Mozart,
na calada da noite.
Desperto
nos estertores
da madrugada.
Creio
que ficarei acordado
por todo esse restinho
de eternidade.
MAREMOTO
Restos à deriva.
Só ficaram fragmentos.
Pareciam de outros barcos
mas eram do mesmo.
Uma só embarcação.
E você,
já quase nua,
chora.
O mar balança.
A lancha flutua,
o vento desfolha as velas
e tira sua roupa.
Brindo ao mar,
por minha nau,
toda inteira,
e por você, nua,
toda minha.
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