TRÊS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER













AMPULHETA

Sou mais novo
do que Chico, Caetano
e Rita Lee, ídolos
da minha geração.
Contudo mais velho
do que Otelo
de Shakespeare.
Tenho a idade do rock ’n’ roll.
Sou mesmo da época
dos moinhos de vento.
Aqueles que Dom Quixote herdou,
no reino da Espanha:
tempo de Sancho Pança.


À EXAUSTÃO

O maior fracasso que sei
é o amor fracassado.
Fica-se ausente da real.
Sonha-se com o ontem.
Saímos de nós mesmos
e não voltamos mais.
Cultivamos nosso solipsismo
à exaustão.
Nos perdemos no tempo
e só vemos nossas costas
descobertas.
Horizontes sem fim,
céu sem estrelas.
A derrota no amor traz
a experiência da morte.
Nada mais existe,
nada mais interessa.
Respiramos apenas porque
o ar é inevitável.
A derrota no amor
se avizinha
da destruição completa
do ser.
Será bem vindo
um novo amor
e só este poderá salvá-lo.


POEMA SÃO PALAVRAS
QUE FALAM

Se sou poeta é porque
sou intermitente.
Não mantenho estável
nenhuma vibração
de nervos.
Vivo em ondas
e você poderá dizer
que todos somos assim.
Mas isso são ondas alheias.
Falo das minhas próprias.
Que a dor delas é minha
e a alegria eu anuncio
com uma trombeta de plumas.
Grito surdo que só eu ouço.
Se sou poeta é porque
não sou linear.
Vivo em tópicos tropicais,
sub temperados úmidos.
Mistura de suor, sede,
Lágrimas, naufrágios.
Fico entre o pois e o todavia.
Vibro em recomeçar
uma nova vida
a cada momento.
Se sou poeta
é porque tenho remorsos,
disse Drummond.
Tenho remorsos
e sinto culpas
e pressentimentos.
Tenho queda por desavir
parágrafos contínuos.
Cada um é um poema
em seu sentido mais íntimo.
Sou triste e crio versos
porque talvez eu saiba
não haver outra saída.
Que é só a poesia.
Para ter o direito
de enlouquecer
antes pago
minhas contas.
Se sou poeta
é porque sou fingido
e teimo em calar
qualquer voz increpante.

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