UM POEMA DE MÁRCIA TIGANI













CALUNDU


Mãe do dia, Iami
acorda do teu sono profundo

No alto já brilha Guaraci

Inunda-se a floresta
de raios dourados

Acorda do teu sono secular, Iami

Da copa do Pau-rosa mais alto
avista-se alguma esperança?

Por verdes cipós trançados
esgueiram-se curumins assustados
.
Espia, mãe, para além
da outra margem do rio:

Não ecoa estranho ronco?

Não é  murmurio doce.
Não é a voz do Iguassu.

É  estrondo invasor, mãe
Ziguezagueando  a mata

É som dolorido
De madeira  ao chão

Do cafundó da selva
Ecoa o estrondo de Tupã
A despertar de seu repouso de rei

Debulha, pai, tuas lágrimas
Em forma de tempestade
Pela terra  devastada

Faz  dia virar noite
Faz  o aguaceiro da ira
Envolto em  calundu

Expulsa a motosserra 
Da aldeia perdida do pau-brasil


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