UM POEMA DE MAURÍCIO SIMIONATO












A PRAIA

Engulo um punhado de terra arrasada
enquanto roço o dorso na fumaça amareada de desencantos.
Os rochedos desconfiam dos jogos de amar e desamar.

Aprazíveis praias vazias enlaçam-me nas névoas do destino ocaso.
Derivo nos espaços que me sobram

ressurjo em busca de ar, à beira de um oceano qualquer.

De rosto afundado na areia, estanco o fluxo que me trouxe à vida.
Respiro o dia para deixar de ser fim.
Embaraçam-me sonhos a perder de vista.

Trago olhos exilados,
lábios arroxeados
cílios marejados.
Também sou criança.

restou em meus pulmões o sal da saudade perdida.
Não sinto mais o gosto de conchas em minha língua,
sílabas indizíveis me trouxeram até aqui.

Invado a praia sem fazer castelos,
Sem pipa, bola ou boia.
Sou mais um Imperador de Sorvetes das brincadeiras que perderam a esperança,
o quase amor na brisa de outrora
e quem você não deseja ver caída em uma manhã ensolarada de marés baixas

Não avisto as nuvens de hoje,
mas sempre me entrego a elas.
Para ficar a sós,
Com meus ossos oxidados.

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