UM POEMA DE MAURÍCIO SIMIONATO

















ALMA ATOL

Oh atol de minha´alma que me faz liberto novamente
E me aprisiona como sempre em teus sertões, outrora secos.
O prisma da bruma eleva-se ao tempo-distante.
Um horizonte ainda pode estar lá adiante, desidratado de marés.
E encoberto por miragens esvoaçadas pelo silêncio que só as ondas têm.
Para lembrar-nos de abrir a vela
Tal qual latido de cão,
que jamais volta para dentro do mesmo pulmão.
Os últimos laivos ruivos nos céus são os primeiros a sumirem
na noite sovina de sóis.
Cego pelo farol abandonado em ruína.
Neste atol de gaivotas libertariamente territorialistas
pousam saudades perdidas em pontiagudas pedras-pomes.
A filha da lava emerge dos mares com seus olhos cor de cobre, cortantes.
Repouso em rochas ígneas que me ferem as costas, os dentes e as tripas.
Arrefece o magma da ausência em minhas chagas.
Soerguido, estanco o assoalho oceânico em meu peito salino.
Oh atol da minha´alma.
Salve-me, mas não por muito tempo,
neste fim de mundo que é tudo o que tenho.
Há momentos que se perdem e há momentos que nos levam ao mar.
Envolto em luzes de maresia noturna, embaraço e desapareço.
Ali, encontram-se:
Nuvens-dia-dragões,
Aromas-ventos mareados,
Fins-de-tarde-peixes
E quadradas perdidas de chão eruptivo.
Oh atol de minha´alma
Que me tem com digna indiferença.

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