DOIS POEMAS DE LOURENÇA LOU
FARDAS
caminhava para a morte
sempre o mesmo corredor
fartura de fardas
risadas
palavrões
oco dos gritos
a estourar seus medos
não havia mais sustos
a dignidade
submetia-se
às pontas das armas
sua nudez
era gozo
distração
garantia do soldo
todos os dias
um cheiro podre
escorria
pelo cano da arma
a conspirar
contra os fragmentos
de uma teimosa
e amarela esperança
havia um abismo
entre a dor
e os compêndios de moral e
cívica.
FÚRIAS
sorri e abraça a sina
de a cada dia
amanhecer em suas fendas
ao grito das feridas
desenha-se arma
finge-se personagem
ao carregar desalentos
pelos degraus de seu
enredo
em memórias suspensas
inscreve-se história
sobrevive aos incêndios
às ruas compridas
às tentativas de abuso
na sola dos pés
faz-se asas às fúrias
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