TRÊS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER
DEPOIS UM PORTO
Descascar a laranja inteira,
até o último traço.
E gomo a gomo,
desnudá-la.
Sem machucar a pele,
sem tirar pedaço.
Olhar para ela então
e sussurrar
(com água na boca)
- agora vou chupá-la, ao último sumo.
Depois, uma dose de porto,
para evanescer a ansiedade
e saciar a lascívia.
CONTA-GOTAS
É o medo
que dilacera.
Como uma pedra de gelo
na manhã de inverno.
O pavor
penetra e corta,
pontiagudo e afiado.
Conheço essas dores
das leituras
da minha infância,
das noites
da minha transversa
adolescência.
O ser se dilui
com a inexperiência
e a ignorância.
É quando
só a loucura salva.
A ausência de medo
é loucura velada.
Dor é desacato.
É o pior lado da vida.
Mas faz parte dela.
A realidade impinge
o medo.
O medo do claro
como outrora era
o medo do escuro.
FURTA-COR
Cerejeira (cortada) sangra,
fêmea da natureza
doce mina baiana.
Brota rosa: seus botões,
arranca-me
o frescor da alma,
mergulha sua brasa
no meu peito,
à flor da pele.
Vem cá para mim!
O calor (do mar) no verão
acaba no fundo
deste oceano vítreo,
translúcido: furta-cor.
Comentários
Postar um comentário