TRÊS POEMAS DE JADE LUÍSA
QUEDA
Há um espelho fosco sob meus pés
sou alimento estirado na tábula
fronteira entre o penhasco e a pétala
Coragem escoa pelos meus poros
vejo fundo o vazio, tão fundo
que sinto o seu bafo
fervendo os meus músculos
Uma criança se prepara para saltar de uma pedra
ao fundo do rio, tão fundo
que sente o seu bafo
tremulando seus pequenos pés
a criança salta com seu corpo minúsculo
e transborda o rio, eterno.
Meus pés são pequenos
não cabe nenhum coturno
visto coragem nos poros, nada nos pés
eu quero o vazio que teima
o vazio que grita
o vazio que farta
o vazio que morre
do contrário, não é vazio
é rio e pedra e pétala
Sacio meu sangue de pétala rio e pedra
esgoto minha ceia, sou lobo faminto
uivo e oscilo à beira do nada
o vazio seduz, eu salto
e ao fundo descubro que o vazio sou eu.
BROTO
Gritos férteis coagulam
úvula fêmea se rompe
engole pó e antipalavra
O fogo desponta do seio
chifres na boca do sol
cúrcuma tece a espinha
estiagem da língua
No canteiro do estômago
cultiva crisálidas
com a luz de quando abre a boca.
Em tempo de sangrar, vocifera
o que nasce não é palavra
não é néctar
é lava.
Sacio meu sangue de pétala rio e pedra
esgoto minha ceia, sou lobo faminto
uivo e oscilo à beira do nada
o vazio seduz, eu salto
e ao fundo descubro que o vazio sou eu.
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