TRÊS POEMAS DE JADE LUÍSA

 


QUEDA


Há um espelho fosco sob meus pés

sou alimento estirado na tábula

fronteira entre o penhasco e a pétala


Coragem escoa pelos meus poros

vejo fundo o vazio, tão fundo

que sinto o seu bafo

fervendo os meus músculos


Uma criança se prepara para saltar de uma pedra

ao fundo do rio, tão fundo

que sente o seu bafo

tremulando seus pequenos pés


a criança salta com seu corpo minúsculo

e transborda o rio, eterno.


Meus pés são pequenos

não cabe nenhum coturno

visto coragem nos poros, nada nos pés


eu quero o vazio que teima

o vazio que grita 

o vazio que farta

o vazio que morre 

do contrário, não é vazio

é rio e pedra e pétala


Sacio meu sangue de pétala rio e pedra

esgoto minha ceia, sou lobo faminto

uivo e oscilo à beira do nada

o vazio seduz, eu salto 

e ao fundo descubro que o vazio sou eu.


BROTO

Gritos férteis coagulam

úvula fêmea se rompe

engole pó e antipalavra


O fogo desponta do seio

chifres na boca do sol

cúrcuma tece a espinha

estiagem da língua


No canteiro do estômago 

cultiva crisálidas  

com a luz de quando abre a boca.


Em tempo de sangrar, vocifera

o que nasce não é palavra

não é néctar 

é lava.


* * * *

Sacio meu sangue de pétala rio e pedra

esgoto minha ceia, sou lobo faminto

uivo e oscilo à beira do nada

o vazio seduz, eu salto 

e ao fundo descubro que o vazio sou eu.


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