UM POEMA DE JÓIS ALBERTO



 ELEGIA 


Na Pedra do Rosário, às margens do Potengi,

A brisa solitária finda em melancólico pôr-do-sol,

Num céu marrom, azul, com tons de avermelhado arrebol.

Um jovem diante do cenário

Louva plantas malditas e vinho ordinário

Em recidivos versos de sentidos desregraddos (ele desconhece

O prazer do sommelier, que degusta o sabor do vinho raro, 

Um prazer aristocrático, burguês – e se avalio bem – avaro

E caro).


Surge nova a lua amarela nas águas do negro estuário,

Onde um barco vazio segue sem rumo,

Rente ao mangue lutulento de pungente desvario.


O adolescente cambaleia

Por caminho de crepuscular poesia,

Sem perceber o inexprimível vôo do pássaro,

Presságio de sonhos ruins

Em que formigas procuram o seu coração. 


Ansiedade! Pensamento golpeado, turbilhão de sentidos,

Na senda da noite, entre a vida e a morte;

O louco morreu. Outro homem nasceu.

No céu, uma nuvem de rosas,

Vermelhas

Amarelas,

Vaporosas,

Caem ao peso do amor. 


Quando o túmulo se abre vê-se o mar

- Igual à lápide e epitáfio de poeta – 

Um mar de distante planeta

Vê-se um rosto que ampara constelações, 

A face do homem morto, que desejava ver

A Flor Azul,

Inacessível aos homens,

Aos poetas de todas as estirpes,

Principalmente os de mais trágicos e românticos solipsismos.


Ponteiros das horas mortas,

Mocidades mortas,

Desaguam no rio, onde o homem, ao mergulhar uma vez mais,

Será outro;

As águas seguirão seu curso normal.


Em outra dimensão, o pescador joga a rede

No mar e puxa a fria lua minguante amarela,

Que flutua sobre a cabeça da bailarina com leque, 

Graciosa gravura de ex libris chique.


Um ser humano vagueia flaneur pelas ruas da cidade

A recordar prazeres e excessos de tempos e mentalidades

De farandolagens funambulescas;

De curtições rocambolescas,

De doideiras carnavalescas,

De breguices grotescas,

De artes burlescas,

De aspirações quixotescas,

De culturas bacharelescas,

De presunções livrescas,

E a suportar traumas de crueldades dantescas, 

A cabeça erguida, contudo. 

*Poema publicado no livro Poetas azuis paixões vermelhas amores amarelos (poesia e prosa), de Jóis Alberto Revorêdo (Natal: Sebo Vermelho, 2003).


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