UM POEMA DE LOURENÇA LOU

 


MURO

 

sob o esmeril do sol

a caricatura de um homem 

escala o muro


da boca escorre uma baba lassa

no corpo o fardo de seus mil anos 

mal distribuídos na carne desvalida

 

silêncios cochilam na tarde de sábado

um tiro fura a pasmaceira

prega o homem de cara no muro

rigor nos braços

pernas a exaustar o ar

 

mulheres dissimulam medo

crianças arregalam-se 

homens louvam na farda e fuzil

o acato da lei


o amor faltou ao chamado do sábado


no muro o corpo em sangria

como um tiradentes enferrujado

finda a intenção de salvar 

o cão preso nos fios

da garantia do patrimônio


com ganidos de vida partida

um urro de boi no matadouro

alheia-se o sábado de cara no muro.


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