DOIS POEMAS DE MAURÍCIO SIMIONATO

 










ESPOROS


Ferida de gente.

Feita de coisas que nos tocam,

agarra-se naquilo que nos salva.

Quando saiu ao sol,

deitou-se ao nosso lado 

sem trazer respostas.

Veio como esporos ao vento.

E se decidir partir? 

E se partiu entre nuvens?

Cansada de ouvir preces. 

desgastada por indiferenças.

leva-nos aos seus labirintos,

faminta como Artêmis.

Testa-nos diante ao desejo de caos.

Respira por nós o cheiro 

da chuva por vir.

Mostra os devires 

que nos expõem à vida.

Embrulha os homens 

em visões de abismo,

e reconhece-o 

como reflexo nunca visto.

Mantêm os olhos abertos

ao nos ver passar.

Voltada às coisas que não vemos.

Socorre-nos, enfim, 

de um fim do mundo qualquer.

É sagrada ao buscar perder-se: 

aqui, no único tempo que existe.

Sempre a um passo de salvar-se de nós, 

a fé deixou-se ir, 

sabendo que voltaria: renovada.

Se há de seguir, 

nos seguirá. 


FUMAÇA & BELELÉU

                                                  

Queima o céu. 

Escurece o Sol.

Torra a selva.

Come o pasto.

Terra sem cio.

Entorta o passo 

no teu asfalto.

Incendeia, desce

até o chão. 

Não para, não para, 

não para, não para,

não.

Chega no vento 

a falta de ar, 

antítese do Paraíso,

desconsolado.

Um rio inteiro para si 

de monóxido 

de carbono. 

E desaba tudo 

na cabeça 

dos homens espertos

de corações-desérticos

e sangue anêmico 

nas veias.

Pobre América 

sufocada 

por pesadas nuvens,

que antecipam a noite 

na hora mais escura 

dos dias de hoje.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA

TRÊS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

NOVE POEMAS DE JORGE AMÂNCIO