UM POEMA DE JOSÉ COUTO

 










O CARBONO TRANSLÚCIDO


I


só eu vi

luzes turvas do alumbramento

nas dissonâncias

do desamor-imperfeito


só eu li

o sol dentro do verso

fragmentar cristais límpidos

desejos transformados em náufraga


 só eu revivi

a desolada alma do pássaro

gerar a desordem

o poema decifrar o vórtice

desencadear fragrâncias

amorosidade equilibrista


 só eu concluí

escrita extensíssima de ecos

diamante raro lapidado

essência vaporosa da lágrima

frêmito da navalha no lábio

vertendo luz na palavra indizível

revelações materializadas

nas entrelinhas pontiagudas


II


linguagem: abismos dos avessos

forjando inesperadas trilhas

vestígios de nuvens

sussurrando dentro

caos da paixão

amplidões, ressignificados

lapidados, reinventados

tatuados no que nos tocou

profundamente e permaneceu


 alucinando perplexidades

desconcertando sentidos

dissolvendo epifanias

dissipando sobras

encurralando no canto

do mais intrincado labirinto

o leitor vencido, submerso

 

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