DOIS POEMAS DE CARVALHO JUNIOR
GAIOLA
a gaiola abriu a asa no peito da ave
:
o pássaro sorvia o próprio sangue
numa taça com as gotas guardadas
pelo tempo que o tomou de ser livre.
a gaiola maldizia o feitor
e os seguintes no ciclo de prisão;
a gaiola se pensou um curió,
fez-se gaiolássaro de bom canto;
a gaiola se desgaiola de si,
dá-se de beber um amigo ao outro,
um voo de sonho se desenverga.
nenhum espantalho amedronta mais.
gaiolássaro e passariola se amam,
como ensinam poetas sobre a vida.
CIGANA ACROBATA
Ó tijubina, lagarta do mato,
arco sagrado das minhas janelas,
infâncias ardem em tua cauda,
rabo teimoso do chão de malícias.
Amo a disciplina da tua fuga,
do teu chicote amarrado de pontes,
cigana acrobata, graça na areia,
em cada cipoada doze pélagos.
Dança assim nua nesta frágil manhã!
Menina índia me embira na ginga,
bebo o melão com mel de tua língua.
Sou tijubinocentrista incurável,
amor aceso, voa sobre os verdes.
Miro-te sempre em meus morros de pedra.
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