DOIS POEMAS DE LOURENÇA LOU
BICHO ESTRANHO
vazia de si
e do que imaginava ser
viu-se vingando
da orgia de vômitos
números indecisos
na balança
grilhões de morbidez
em suas pernas
alface esverdeando
a lucidez da pele
com a tesoura
creditando sua coragem
rasgou o fascínio
das artérias azuladas
confundiu cianureto
no vinho tinto
sonegou o dedo
à garganta viciada
libertou o estômago
para o enredo final
as gotas lacrimejavam
na banheira
em suas entranhas
o cianureto
era rosa de fogo
a explodir fagulhas
de liberdade
agarrou-se
à libertação
das burlescas passarelas
onde plantaram
um sonho inventado
fechou as asas do olhar
e se apagou
:
bicho estranho
à vida que lhe coubera.
* * *
antes que eu pudesse
colher as flores da agave
o outono chegou
descobri a rebeldia das pétalas
nas cores que cobriram a calçada.
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