UM POEMA DE CARVALHO JUNIOR
O GÂNGLIO DE CADA ENGASGO
O corpo caído me sonha um rio,
e levita como alvíssima nuvem.
Às vezes, é um
lagarto sofrido,
um touro caxingó que já não muge.
Quando o corpo se perde no caminho,
quando para dentro ou além é rasgado,
dói a pestana do olho mudo do espinho,
geme grave o gânglio de cada engasgo.
O corpo sonha com a unção da índia,
em se acordar para uma pele nova.
O sopro de arribação de uma ninfa,
a alma do corpo, então, se desemborca.
O corpo nem sempre se sabe corpo,
é o corpo a fera que rói o próprio osso.
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