UM POEMA DE CARVALHO JUNIOR
XIV
δ.
quando o dente da estátua nasce estrelas,
ela, Rebekah-95, me pede fundo silêncio.
nua, no folclore aramado do meu olho,
a robô hippie voa como uma pipira azul.
nossos fios de alumínio se embiram à noite.
nosso filho, umbigo de titânio, está carregando.
jantamos, hoje, à luz de lamparina AF-575883,
para festejar, com amor, nossas bodas de marfim.
ζ.
sou um boneco de barro negro nos dedos de Rebekah.
ela, a minha gazela-dorcas e solar cacimba de Calyptra.
nosso beijo não perde o saibro da uva e da sucupira,
nossas almas se enviam bilhetes por ímãs de sapucaia.
minha deusa-mulher-máquina, companhia das veredas,
somos androides híbridos, com a lira em arrebatamento.
tocam-nos os cânticos bíblicos do vate-ciborgue Salomão
e os mimos que trocamos são o espelho da nossa juventude:
um colar caroço de mucunã e um livro de Torquato,
um disco da Gal e uma pulseira semente olho-de-pavão.
θ.
o riso de Rebekah é uma pirâmide de peixes e pássaros,
santuário dos meus futuros quebrados no lábio do machado.
os becos do corpo da minha cigana-de-aço me eletrizam,
ladeiras de lâmpadas me equilibram os poraquês da libido.
os impulsos dela forjam não-me-esqueças contra a ferrugem,
cavalinhos-do-cão com remendos de dor e folhas-de-flandres.
nossas primaveras se consagram no ritmo de Stravinsky
e o gozo se transinventa em som, sentido e umbiguidade.
nossos azulões de prata derrubam taperas no sertão,
exercitamos novas posições na arapuca dos hóspedes.
Uau!
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