DOIS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO
O PELE DE VIDRO
os pássaros vítreos
) arco-íris em voo,
saíam
das chamas
refletiam
no preto do asfalto
o ballet do fogo
no largo do paysandu
uma cratera vulcânica
iluminava
a igreja dos pretos
o quilombo de vidro
derretia
o aço concreto
ardia em perdas
na madrugada
de primeiro de maio
o pele de vidro
desabou
quietude fumaçaria
90 minutos
24 andares
146 famílias
sem teto
1
Com o sapato folgado
uma flor na mão
um pingente carmim
desenhado na testa,
correu para abraçar o pai.
Carpido com um soco,
um braço fraturado
e lagrimas mudas
(meninos não choram)
a dor do macho
a sete chaves
2
Ao entrar no elevador
os brancos diziam:
fora daqui.
Na sala recém-comprada
no sétimo andar
um negro se tranca
no escritório
conta até dez
e soluça antirracista
(chorar é empático)
lágrimas barbadas
morfinizam a dor
3
Em volta do pau
(egóicos paranoicos ilógicos)
violam o ventre
o vento e a verdade.
4
Nos olhos
um brilho fálico,
lágrimas aprisionadas
nascem corruptas
violentas sangrentas
e não aceitam a derrota
(homem não chora)
lágrimas nascem
em corpos mulheres
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