POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

 

TANKAS OUTUBRO


1

folha por folha

durante o mês de outubro

desfias o tempo


aí onde estás

é onde fica o céu 


2

Vou saber melhor

Espero ler inteiro 

O teu recado


Nas últimas férias

Cansei deste meu latim


3

viajar sozinho

buscar destino fácil

não é meu plano


você não pode negar

seu interesse por mim


4

Já não faz frio

Flores pintam e bordam

Durmo agora nu


No quadro da parede

O sorriso da musa


ROSAS PÚRPURAS


bêbados pela dança

das nuvens brancas 

da tarde

à espera de estrelas

meus olhos 

vislumbram miragens


vestida de carmim

unhas encarnadas

lábios de amora

tu deslizas

entre rosas púrpuras


teus olhos viajam

cabelos negros soltos

altiva beleza

apontas o caminho

de curvas e algodão

risos e êxtase


IDEIAS


Quero produzir poesia

do século 21.

No século 21.

Com cara de século 21.

Nova. Pós-moderna. 

Uma poesia sonora,

visual, cerebral. 


Há muitos poemas

dos anos 80, por aí.

Década em que a poesia

ganhou mais notoriedade.

Todavia o que trouxe de novo?


É certo que deve haver

ritmo, vulto, ideias

atrás das belas palavras,

em meio às frases de efeito 

até nas formas, quando calha


Agora imagine um poema 

do século 21.

Eis a ideia.


CONTINENTAL


Há 500 anos

o Brasil pega fogo.

Não o fogo puro

a jorrar da terra

como água um dia.

Mas faísca do atrito

das mãos do homem

com o vil metal.

O sangue:  vermelho, 

negro, branco, pardo.

Das mãos da ganância,

fogo, soja, gado.

Um brasil em brasas

sem a cor do pau-brasil,

tantas já cinzas

para a posteridade.

Vermelha,

a queimar.

Fica a língua

a lamber a cria

migratória

em cinco continentes:

o português,

essa fala

que ecoa à sombra

dos coqueiros das colônias

pelos quatro ventos,

a transformar 

as trevas em entendimento.

Onde haja gente possível,

Depois da queimada, 

seca, devastação:

o crime, o ser humano estúpido,

a vida débil.

A palavra que mata.


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