UM POEMA DE ALÊ SAFRA

 


garotas de botecos sujos. fantasmas de rua. cansativas. eu amei tantas de vocês pelo tempo de algumas cervejas e cigarros. 

ofendi o amor e procurei perdão oferecendo o melhor de mim. canalhas são contraditórios. acho. 

caminho pelo centro à tarde depois de uma reunião. estou cansada. puxo a cadeira num bar qualquer. peço cerveja, quatro cigarros soltos e balas de cereja. olho o movimento. quantas mulheres em situação de rua, penso. fico mais deprimida. meus olhos encontram a garota que vende chips de celular no calçadão. ela ri e olha para a cerveja. ofereço um copo. é um trabalho tão ruim quanto o meu. esses trabalhos estragados que nos castigam. 

e a garota sabe disso. bebemos. reconheci o brasil resumido em nós. dividimos um sanduiche de mortadela. fiz minhas piadas toscas para ela rir. paguei a conta. ela me beijou na boca e não correspondi. agradeci a companhia. às dezoito já estava em casa: pipoca, netflix, uma aspirina e esse amargo que afago sem reagir.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA

TRÊS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

NOVE POEMAS DE JORGE AMÂNCIO