UM POEMA DE CARVALHO JUNIOR








ANIMÁLIA 


I. 

{Lagarta}


livros, luas e licores nas frestas da noite. 

a sala sob a luz de infâncias remendadas. 

giram piões de banzos sobre os azulejos. 

a salamandra ancestre dança a casa inteira.

relâmpagos de lágrimas se perdem no olho. 

tudo é música dentro do turvo da memória. 

a manhã acorda, nua, com ressaca de vinho. 


II.

{Peixe}


passa a faca, leve, no corpo da manhã.

estica o peixe, mete-lhe o sal das mãos.

incêndios em aquários, açudes quebrados, 

xícaras de sangue no ticado de dona Isabel 

e o ritmo do mercado se queixa do cheiro forte. 



III. 

{Capote}


cantam, entre miúdas pedras, no alto da ladeira, 

as mágoas vivas do sertão e da galinha d’angola.

parece o mesmo, diversa a fonte do terreno soluço,  

os idênticos ais não se curam com qualquer susto. 

tantas lágrimas em sons da natureza se revelam

e o coração revigora na ácida louça do caminho. 


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