UM POEMA DE SIDNEI OLÌVIO

 

MUNCH


a ponte

minha sina

instante

onde rima

o limite


(transito:)


a dois passos

do espaço

a uma sílaba

do grito


vigília


nos pequenos

vãos

das grades

vão-se 

grandes desejos

universos relativos

e inúteis tentativas

de se alcançar

as chaves

:

viver é ser

prisioneiro do mundo


adágio para uma nova manhã


o sol com seu fausto sorriso

no holocausto da tarde

recompõe a noite (sem alarde)


PROCESSO DE POVOAMENTO


uma nova manhã

surge lentamente

sobre o dia preguiçoso


o sol na altura da cabeça 

acorda meus olhos às nuances

do jardim e arredores


um mosquedo de drosofilídeos

rodopia a casca de banana

arremessada sobre a calçada 


uma nuvem de libélulas

sobrevoa a piscina ao lado

ávida pelos mosquitos


um enxame de abelhas

zunindo em uníssono

poliniza a pitangueira em flor


(uma solitária vespa

carrega a imóvel lagarta

para o seu ninho de barro)


um quase cordão de formigas

escraviza afídeos em tenros brotos

refastela-se do açúcar


o trânsito na rua inaugura a hora

com automóveis se enfileirando 

no cruzamento


buzinas enlouquecem as aves

arriscando pouso nas poucas árvores 

ao redor do passeio


um passante pisa a casca de banana

e vocifera sobre o sujeito oculto

sem perceber as moscas que se dispersam


as libélulas se dispersam

as abelhas se dispersam

a vespa se dispersam


uma fina névoa encobre o sol 

o pretexto das dispersões

e o trabalho submisso dos pulgões

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