UM POEMA DE ANA ARGUELHO
DES-RAZÃO
Sem melodia, perspectiva, pleno de
nada.
O tempo arrasta suas sandálias
enlameadas
Da chuva que caiu sobre a tumba dos
mortos.
Ao longe, o futuro geme num difícil
parto,
arrancar de uma placenta fétida e
apodrecida,
contaminada de letais vírus e ferozes
ódios
um novo ser que não seja abjeto nem
estulto
é tarefa que pede força e inteligência.
Mas a inteligência ficou perdida no
lamaçal,
pesada que se tornou à custa de ouvir
insanidades.
Que resta para arrastarmos ao futuro
senão quimeras tediosas de uma
sociedade em desvario?
Quimeras já cantadas por Baudelaire
no dobrar dos sinos da razão burguesa
e que retomamos.
Enorme e pesada carga,
a nos grudar de novo no pescoço
dificulta a caminhada e
tenta nos fixar ao odiento chão
como se grossas correntes prendessem
nossos tornozelos.
Penso, se é que ainda penso,
Que a história cobra um preço
gigantesco
Para os que se propõem a realizá-la.
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