UM POEMA DE PAOLA SCHROEDER
ALÉM-MAR
I
Talharam na água a lembrança da terra.
Vieram se espremendo na proa,
abraçando um imaginário de cores.
Do outro lado do rio há vida.
Ir além e adentrar o mar.
Suspiro vertendo dos olhos.
Da origem desse mundo
toda fuga é ceifada.
Não para quem parte,
mas para quem desembarca.
Todos os outros ficam no caminho.
II
A ideia de pátria se dissolve
na carne cortada pelo frio.
O beijo do menino é levado pelas ondas
e amanhece cravado na areia.
Seu corpo sem vida.
III
Ainda que não creiam
os motores balançam a água.
No desespero todo caminho é seguro.
Tantas vezes vencida a morte resta o ar.
A vida pulsa, não importa se entre muros.
IV
Mesmo a comoção que não é ínfima
deixa-se ser filtrada pelo tempo.
Mas o beijo, a areia, o corpo.
Esses resistem.
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