UM POEMA DE EWALDO SCHLEDER

 


 

 






À MODA ÁSPERA DO CIMENTO

 

A viagem fala alto. Voz rouca.

Muitas noites, longos dias,

Sol e chuva, retas e curvas.

Ondas acústicas marcam o ritmo

desse trajeto sem fim,

de largura sem fim: viagem sem fim.

Ar, água, trilhos, trilhas.

Mapas, pedras, gelo, poeira.

Viagem sem fim.

 

Denso mundo de crueldades

e ilusões: a vida fala.

Coração bate e machuca.

Num único movimento da terra,

a movida humana: o ir-e-vir

– nem tom acadêmico,

nem calendário, nem dinheiro,

mas compatível

ao fluxo seguro da liberdade.

 

Questiono paredes,

elas contestam

à moda áspera do cimento.

Viagem não combina com muros,

quartos trancados, janelas fechadas.

Sobrevivo sem viajar, no silêncio.

Vejo nas minhas tonalidades

violeta, púrpura, chumbo, musgo,

meus ângulos em reencontro,

minhas ranhuras, lisuras. 

 

Já no âmago de sua trajetória,

A viagem ganha escuridão,

antes de brilhar à luz do destino.

Dobram os sinos da província

e se perdem no instante mudo; a mordaça,

venda nos olhos, um universo a descobrir.

Uma justiça a se fazer.

Mais nada. A viagem com tudo. Ou nada.

Relâmpagos, trovões. Vida sem fim.

 

 

 

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