UM POEMA DE JORGE AMÂNCIO
NINGUÉM
DEVE SAIR SOZINHO AO MEIO-DIA
na cidade
entra cambaleando
tatuado no peito como um abutre
fecha a estrada
com uma planta espinhosa
marca quem entra na cidade
senhor da terra
dono das pérolas
dorme sobre o dinheiro
dança sobre o dinheiro
Caçador negro
cobre o corpo com palha da costa
mede suas pérolas em caldeirões
quem o desonra
não concebe ser desonrado
quem o insulta
o cadáver volta inchado
A folha balança
na superfície da água
de quem mata e come gente
varíola disenteria
feridas incuráveis
vômitos inchações
roupa de pele
adornada com cabaças
orixá que corta a estrada
se não for Omulu
toque-o com o machado
você saberá quem ele é
enxada de chumbo
não cavouca o campo
faca de cobre
não corta a palmeira
a hiena saiu
amarrem os carneiros
o escorpião
tem cauda encurvada
Omulu
parte para outras terras
Obaluaê Xapanã Sapatá
Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!
Comentários
Postar um comentário