DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO
A CONSTELAÇÃO DO DESEJO
A via láctea desemboca
no Nilo: crocodilo
de dentes estelares.
Quasares pulsam
nos ares de séculos passados
em segredo.
Reflexo do céu
as pirâmides sesmariam
o brilho das Três Marias
: Quéops perfura pontualmente
o Cinturão de Órion
dividindo a terra do lado sul.
Longe do sol
teus olhos me iluminam
(tudo faz sentido quando
no deserto da ciência
nossos corpos se atraem
pelo impulso do desejo).
BAILE DE MÁSCARAS
ela me interroga
sobre o devir de todas as coisas
eu apenas confesso os desastres
em ser sincero
(o martelo de Nietzsche quebrando barreiras –
dinamite existencial a dois passos do abismo)
nada que me oriente
nem búzios nem bússolas
ou orgânicas promessas
de amores metafísicos
(sigo estrelas desaguadas
nas noites de verão)
nada que me move
nem o ritmo tribal dos tambores
ou pendulares mensageiros do vento
(talvez o poema rimado
pelo passado que se perdeu no caminho)
caminhar é reescrever o tempo
à distância do mundo
na escura cena em que nos despimos
da mais tirana fantasia
Comentários
Postar um comentário