DOIS POEMAS EM PROSA DE SIDNEI OLÍVIO
NÃO
HÁ REGISTRO DAS NOSSAS CONVERSAS NO ESCURO
Palavras tecidas no acaso da hora. Sussurros
subversivos, caindo sobre a marginal de 77 (aqueles anos indômitos). As noites
deixaram apenas rastros das imemoráveis fugas dessa época obscura.
Lembro-me de uma esquina de geografia inexistente:
lá, engendrávamos intenções de futuro. Confrontávamos o real para compreender a
realidade. (Outro rastro apenas, que não pressupunha dádivas, mas dúvidas de
que a vida era mesmo verdadeira.)
Como nenhum diálogo produz veracidade, acabamos por
entender que tudo não passou de panfletagem. E devaneio. (Enquanto isso, no
jardim paraíso, ela despertava uma sensualidade imprevista para quem vende
desejos e, como nós, não tinha nome.)
SEM
NOSTALGIA
Mesmo longe do bar, toda noite acabava em bebedeira.
Salvamentos clandestinos. Mantras de canções censuradas. A afinação da
capacidade de se ajustar e juntar as pontas das cordas, para dar um laço na
história. Era escolher um lado e enchê-lo de significados.
Grato!!
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