UM POEMA DE LUCIANA BARRETO

 











NOIVA NOTURNA

 

A mulher de pés descalços

em suas vestes de organza

risca as ruas

avança os sinais

a cada aparição sonâmbula

– e absurda.

 

A mulher de pés em brasa

em sua écharpe de fogo

dispensa a moeda

e se demora longínqua

em todo olhar incauto

em outro (e outro)

tropeço errante

– inevitável.

 

A mulher de pés de ave

em seus cabelos tão alvos

porta – elegante –

as sacolas do super

e arrasta suave

mil ossos aéreos

– incandescentes.

 

A mulher de pés despertos

– dália embrutecida –

atravessa vitrines

incendeia retinas

impossível retê-la

no estilhaço das poças

na fronte do espelho.

 

Em seu destino andarilho

– noiva noturna –

a mulher de pés febris

encobre o sol

refulge a lua

dispersa sua sombra

apaga – uma a uma –

as pegadas no asfalto

e (por aí) atira insultos

e distribui margaridas

povoando o vento

habitando o mundo.

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