ÁGUA
AO LADO DO FOGO NO CENTRO DO CÉU
dono
da espingarda do céu veste um grande traje vermelho
escarlate, nos lóbulos de suas orelhas, argolas, usa colares de contas e
braceletes, elegante trança seus cabelos como os de uma mulher. caminha com
dignidade, um elefante, um leopardo de olhos relampejantes, lança chama pelas
narinas e fogo pela boca, cozinha inhame com o ar que sai do nariz. nuvem de
chuva escurece um lado do céu, faz descer o fogo do céu. ajuda alguém com o
feitiço, mata alguém com o feitiço, senta-se em cima da cabeça de um cágado, salta
com agilidade no dorso de seu cavalo. um louco trovejante, brinca com brasas, combate
sem ter culpa, percorre todos os caminhos desimpedidos. derruba a porta e luta
com o dono da casa, destrói a casa e no lugar constrói a sua. quebra uma
corrente no lugar em que bem lhe agradar, derrota duzentas pessoas na floresta
e com as costas estracinha em volta, sai da guerra leve como a fumaça. seu
peito queima como matagal aos pés da palmeira, sobe na paineira e a faz cair,
entra debaixo da unha de quem não lhe deu o que comer. a chuva molha o louco
sem lavá-lo, num avental de prata, de poderosos feitiços, entra na cidade. faz
tremer os moradores do bairro, tira a mortalha de um morto para cobrir uma
mulher e faz com que o velho se case novamente. dança ao som do tambor, canta
200 cantigas diante do tocador, a criança é mais do que a riqueza no lar, não
existe osso que se assemelha aos dentes, difícil é carregar nas costas um
montículo de terra. vida longa a todos os guerreiros. ao despertar ele se cobre
de vermelho como uma moça.
káwó kábíẹ̀sílẹ̀ ṣàngó
SE FRANZE O NARIZ, O INVENTADOR TEM MEDO
E FOGE
racha o muro do mentiroso
enfia o dedo no olho dele
chão a quem é estupido
o elefante se esconde na neblina
o cachorro anuncia o preço da pele
quem ajuda a carregar tal fardo?
o tambor fala em voz alta
não o vimos no campo ou na cidade
irmão mais novo da natureza
casado com oya oxum e obá
faz descer fogo do céu
filho do meio-dia neto do deserto
diverte-se ao carregar uma criança
quem pode destruir sua boa fortuna?
(xangô toma
conta de minha casa
meu leito de
rosas a você pertence)
barbaças poderosas
um pau de fogo
seu servo é a escuridão
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