DOIS POEMAS DE LUCIANA BARRETO

 












GENTIL AXÉ

 

Para Jorge Amâncio

 

Em ti os palmares

habitam tua pele

Em teu sangue o pássaro

taxã

      rebenta as veias

               reaprende o voo

 

Em teu peito

– clareira de abdias

       terezas dandaras –

o galho desponta grave

a floresta ressurge imensa

o ermo espelha o céu

Conosco (em nós)

 a flecha justa

 o gentil axé

 a escuta elegante

 o canto ancião

       dos congos

           matas aruandas

 

Em teus dedos antigos

ante prantos-luas-mundos

o pombo sagrado

– enfim –

recobra as asas

e (a nós)

regressa

           em

                paz

 

 

A OUTRA MARGEM

 

Dor que se desmesura

desprende-se do talo

avança vales

ocupa montes

sobe cumes

nubla olhos

                céus

            luas

 

E novamente a prece

não escuda o grito

não abranda o pranto

não cala ventos

não susta sombras

                   sustos

                   umbrais

 

Pois aquele querer

faz-se seixo

invade sendas

reacende fontes

desfaz-se líquido

desliza lírios

e talvez assim

nos devolva

(aos olhos)

a ilha suspensa

a outra margem


 

 

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