DOIS POEMAS DE MARINA ANDRADE
Silencio a fala
me cala o som
vazia a sala
na cara o tom
deixadas as claras
poeiras teias
tralhas
tateio farpas veias
falhas
feias valas
vou fundo no osso
revolvo tudo
desovo a dor
horror
do fundo da alma
devolvo pro poço
esse monstro não
quero
pra outras paragens
olhares
íris renovada
parto agora
na busca do louco
amor
próprio
amor
* * *
Bom mesmo é ficar à
toa
comer pão
tapioca
broa
ver televisão
olhar pro teto
salvar inseto
brincar com gato
gata
ir a caça
contar piada
fazer pirueta
uma boa cachaça
fazer nada
ou só o que
interessa
sair pra festa
pintar cabelo
cores diversas
sem culpa
sem vergonha
sem reservas
deixar pra lá o que
não presta
pular a cerca
derrubar o muro
fronteiras
indigestas
irmãos:
eis o milagre da
reinvenção
quase atriz
meretriz
quase ator
quase à toa
amor, na boa:
bom mesmo é ser
só
pessoa...
Comentários
Postar um comentário